Recentemente, tive a oportunidade de visitar a estrutura do Hospital do Amor de Barretos, em São Paulo, uma instituição referência no tratamento oncológico no Brasil e até fora dele. Conhecido por seu acolhimento, excelência no atendimento e, principalmente, por manter a dignidade de seus pacientes acima de tudo, o hospital é um verdadeiro exemplo de solidariedade e compromisso com a vida. Fiquei profundamente impressionado ao conhecer de perto a complexidade da operação da instituição: 30% de seus custos são mantidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e os outros 70% vêm de doações — o que demonstra o quanto a solidariedade humana ainda tem poder de transformar realidades.
Durante a visita, percorri setores, conheci profissionais, ouvi histórias e observei as estruturas modernas, pensadas não apenas para curar, mas para acolher. No entanto, nada me marcou tanto quanto o encontro com uma criança na entrada do setor de tratamento de câncer infantil. Em meio a tantos dados, informações técnicas e protocolos de saúde, foi o sorriso de um menino chamado Pablo que me tocou de forma definitiva.
Pablo brincava sozinho numa árvore cenográfica instalada no hall do hospital, um símbolo delicado de que ali, mesmo entre diagnósticos e tratamentos pesados, ainda há espaço para a infância. Aquele pequeno cenário era uma tentativa de devolver um pouco de leveza ao cotidiano pesado das crianças que ali lutam todos os dias por suas vidas. E, ao me aproximar, fui cativado de imediato pela energia daquele menino. Comecei a conversar com ele, perguntando seu nome, se ele estava bem, onde estava sua família, se estava gostando da brincadeira. Pablo respondeu a tudo com serenidade, com espontaneidade, mas, principalmente, com um sorriso. Um sorriso largo, sincero, contagiante, desses que são difíceis de esquecer.
Foi nesse momento que a reflexão me tomou por inteiro. Aquele menino, em tratamento contra o câncer, expunha no rosto algo que tantas outras crianças saudáveis parecem ter esquecido: a alegria pura, a gratidão pelo instante, a capacidade de sonhar mesmo em meio à dor. Quantas vezes encontramos crianças saudáveis se queixando do tédio, do brinquedo que não veio, do celular que travou, do “pouco” e as vezes do “muito” que têm? E ali estava Pablo, sem cabelo, em meio ao tratamento, sem brinquedos caros, mas envolvido por um amor palpável vindo de sua família e dos profissionais do hospital e, sobretudo, com uma esperança que reluzia.
Não estou aqui para romantizar a dor ou dizer que tudo é mais fácil quando se tem fé ou um sorriso. Mas a lição de Pablo está além disso. É uma lição sobre o valor da vida, da resiliência, daquilo que realmente importa. Em seu olhar, havia mais do que uma vontade de viver — havia um compromisso com a vida, um pacto silencioso com a esperança, algo que nós, adultos, muitas vezes perdemos em meio às nossas rotinas.
A estrutura infantil do Hospital do Amor é um capítulo à parte. Tudo é feito pensando no bem-estar emocional da criança: os ambientes são coloridos, há brinquedos, salas de convivência, acompanhamento psicológico, palhaços, contação de histórias e tantas outras coisas que fazem valorizar ainda mais a vida. Mas o mais importante está no que não se vê, no comprometimento da equipe, no amor que transborda de cada gesto dos médicos, enfermeiros, assistentes, voluntários e todos os que fazem parte daquele ecossistema de cura. Ali, a medicina se alia à empatia, ao afeto, à escuta e à delicadeza, valores que não cabem em uma receita médica, mas que salvam tanto quanto qualquer quimioterapia.
Sempre repito uma frase que me acompanha desde que me tornei pai: “Cada criança merece a chance de vencer, de ser feliz e ter sua vida regrada pela esperança de nos dar um futuro melhor do que temos hoje.” E estar ali, naquele hospital, diante de Pablo, fez com que essa frase ganhasse ainda mais sentido. Porque dar uma chance a uma criança não é apenas oferecer-lhe um brinquedo novo, um presente caro ou um ambiente escolar. É garantir-lhe saúde, cuidado, acolhimento e, sobretudo, a esperança de que o amanhã pode e deve ser melhor.
Naquele dia, aprendi mais com uma criança do que em muitos livros ou palestras. Aprendi que não importa o tamanho do desafio, mas a postura que adotamos diante dele. Pablo, com sua leveza e seus olhos brilhantes, parecia já ter entendido que a vida não é feita apenas de vitórias fáceis, mas de pequenas conquistas diárias: o afeto de quem cuida, a presença da família, o carinho de um estranho que se aproxima e pergunta como foi o dia.
O Hospital do Amor, com todas as suas estruturas modernas e corpo clínico respeitado, é, sem dúvida, um símbolo de excelência em saúde. Mas sua grandeza está mesmo nos detalhes: na árvore cenográfica que transforma uma espera em aventura, na música suave que embala os corredores, no voluntário que conta histórias, e no sorriso de Pablo, que permanece em minha memória como um lembrete de que a esperança é, muitas vezes, o melhor remédio.
Saí dali transformado. Trouxe comigo o compromisso de divulgar, de colaborar, de sensibilizar outras pessoas. A luta contra o câncer é dura, mas o amor com que ela é enfrentada dentro daquela instituição faz toda a diferença. E, mais do que tudo, trouxe comigo a certeza de que cada um de nós pode ser parte dessa corrente do bem, doando, apoiando, divulgando, orando ou simplesmente escolhendo olhar o outro com mais empatia.
Pablo me ensinou que não precisamos de muito para sorrir. Que o essencial é invisível aos olhos, como já dizia Saint-Exupéry. E que, mesmo nas situações mais difíceis, é possível encontrar beleza, aprendizado e propósito. Que a força das crianças está justamente na simplicidade com que enfrentam o mundo: com leveza, com coragem e com fé.
E é por isso que afirmo, sem medo de errar: cada criança merece a chance de vencer. Se dermos essa chance, o futuro será mais justo, mais humano e mais cheio de amor, como aquele que vi pulsando no coração do Hospital de Barretos. E como o que senti no sorriso inesquecível do pequeno Pablo.
Por: Weber Negreiros
W.N Treinamento, Consultoria e Planejamento
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