JESSÉ SOUZA

Tragédias no trânsito e a necessidade de um pacto coletivo

Duas pessoas morreram em acidente na Avenida Ville Roy, na segunda-feira (Imagem: Reprodução)

Depois de um fim de semana macabro, com oito mortos na Capital e interior, sendo quatro vítimas de acidentes de trânsito (a quarta morte foi registrada na noite de domingo, na RR-205), a semana começou com mais duas mortes no trânsito durante colisão entre dois veículos na área central de Boa Vista em uma das vias mais movimentadas, a Avenida Ville Roy. Foram dez mortes violentas em menos de 48 horas, sendo seis vítimas do trânsito, todos por visível imprudência.

As duas mortes na segunda-feira ocorreram no mesmo momento em que a Prefeitura de Boa Vista instalava um semáforo no cruzamento da Avenida Major Williams e Rua General Penha Brasil, que está em teste para ordenar o tráfego em um local de grande movimentação. Significa que esse guerrilha no trânsito vai muito além de instalar radares eletrônicos, semáforos, quebra-molas e implantar novas sinalizações. É necessário que a população queira acabar com essa guerrilha no trânsito, em uma tomada de consciência coletiva.

Além disso, é necessário que as autoridades combatam a impunidade para mortes provocadas no trânsito. Um caso que pode ser colocado com exemplo ocorreu na mesma Avenida Ville Roy, só que no bairro Caçari, considerado área nobre da Capital, no cruzamento com a Rua Casimiro de Abreu, no dia 4 de janeiro deste ano. A vítima morreu no dia 1º de abril, depois de três meses na cadeira de rodas e com outras graves sequelas.

A vítima foi um adolescente venezuelano de 17 anos. A condutora do carro que o atropelou, uma advogada, foi indiciada pela Polícia Civil por homicídio culposo, quando não há intenção de matar, mas o caso parou nas mãos do Ministério Público de Roraima (MPRR), que não levou o caso para a Justiça sob o entendimento de que não haveria provas suficientes, arquivando o processo no mês de maio, contrariando o entendimento da Polícia Civil.

Quando autoridades ou pessoas de poder aquisitivo desrespeitam as leis de trânsito e não são punidas, como ocorre em vários casos, isso provoca reflexos na sociedade, com as pessoas passando a transgredir também por causa da impunidade, normalizando o desrespeito não apenas às regras, mas ao próximo, especialmente pedestres e ciclistas. Essa cultura impregnada na sociedade em que muitos se sentem superiores por sua classe social também é um fator decisivo para descumprimento das leis.

De outra ponta, a falta de educação de trânsito adequada, negligenciada pelas autoridades, soma-se a esse quadro de desafios. Fica muito claro que a formação de condutores precisa de uma avaliação, além de uma política de conscientização pública, seguida de ações repressivas a fim de inibir e mexer no bolso dos transgressores com multas e apreensões de veículos, não só dos pobres, mas também dos que moram nas áreas nobres cuja via de acesso é exatamente a Avenida Ville Roy.

No entanto, em ano eleitoral, cursos para formação de condutores vira moeda eleitoral, blitz é vista como “política antipática” e fiscalização passa a ser seletiva, especialmente nas principais avenidas por onde circula a elite roraimense. E tudo isso se reflete nas rodovias federais, onde a imprudência se soma a todos esses fatores. O resultado disso pode ser visto a cada fim de semana, com notícias de tragédias no trânsito. Não há outra saída se não houver uma vontade coletiva para mudar tudo isso.

 *Colunista

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