
Enquanto a Venezuela vive, desde agosto passado, sob forte tensão devido às ameaças de invasão e movimentos militares dos Estados Unidos, a movimentação na fronteira brasileira segue intensa com centenas de venezuelanos deixando o país vizinho diariamente para ingressar no Brasil a partir de Roraima a fim de fugir do agravamento da crise.
E o principal questionamento que surge é: Roraima terá condições de abrigar mais estrangeiros refugiados? Ou o movimento migratório intenso irá repetir a triste cena de famílias inteiras morando nas ruas de Pacaraima e Boa Vista, ocupando prédios públicos, casas abandonadas ou em invasões em áreas públicas e privadas? Outro questionamento diz respeito aos abrigos, se haverá estrutura e recursos para acolher mais refugiados e manter os atuais com o mínimo de dignidade.
Nesta semana, famílias de abrigados enviaram mensagens eletrônicas denunciando as condições estruturais e sanitárias do Abrigo Rondon 5, localizado nas proximidades da Rodoviária de Boa Vista e da Superintendência da Polícia Federal. Por lá, vivem aproximadamente de 1.000 a 1.200 pessoas, entre adultos e crianças.
A lista de reclamação começa pelas condições dos banheiros, classificadas por eles como “deploráveis”. “Estão imundos e inundados, um desastre total, conforme demonstram as fotos anexas. Esta situação pode desencadear surtos de doenças de pele, doenças venéreas e outras infecções”, diz um trecho da correspondência encaminhada.
Os abrigados relatam que as pessoas estão dormindo em colchonetes no chão, incluindo idosos, adultos com deficiência, mulheres grávidas e crianças. Enquanto isso, eles afirmam que existiria uma grande quantidade de camas e beliches disponíveis no vizinho abrigo Rondon 1.
Os denunciantes ainda reclamam da alimentação servida, cuja qualidade citada da denúncia é como “péssima. “No último sábado, houve um surto de diarreia que, às 12h da noite, gerou filas intermináveis nos banheiros”, prosseguem os relatos. “O papel da ONU deveria ser proteger o indivíduo, mas aqui o que ocorre é o contrário. Além disso, não permitem a entrada de nenhum tipo de alimento, apenas gelo”.
A denúncia assinala medo de represálias como motivo pelo qual os abrigados não se pronunciam publicamente ou não gravam vídeos, uma vez que temem ser colocados para fora do abrigo. Dizem que é expressamente proibido tirar fotos ou gravar vídeos, além da intensa monitoração para impedir os registros, além de câmeras de vigilância.
Trata-se de uma questão que precisa de atenção por parte das autoridades, principalmente daquelas que têm obrigação de fiscalizar as condições humanitárias dos refugiados. Afinal, a tendência é a imigração se intensificar na mesma proporção que a crise da Venezuela se acentua, fazendo com que se torne necessário tomar medidas antecipadas diante do possível agravamento da imigração.
Ou vão esperar que o caos se instale para somente depois tomarem providências?
*Colunista
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