Quem viveu os velhos tempos de minha infância, sabe como a coisa era. Minha mãe vivia preocupada com meu comportamento, segundo ela, com a religião. Nunca procurei entender, porque, desde a infância, nunca me encaixei na religiosidade. Embora sempre respeitando e respeitarei o direito de a pessoa ter e seguir a religião que lhe for mais aconselhável. Era por eu ser assim, chato, que eu era o único filho que sempre que minha mãe ia à igreja me levava com ela. Nunca ela levou nenhum dos meus irmãos. E foi naquele dia, na década dos anos quarentas, em Macaíba, no Rio Grande do Norte, que minha mãe imaginou o que me assustou. Eu ainda era criancinha, quando estávamos na igreja, para a Missa-de-Ramos. Já lhe contei coisa sobre aquele dia, por isso nada de detalhes, agora. Mas, a igreja estava lotada de senhoras com galhos e ramos para serem benzidos. E foi aí que o padre chegou, virou-se para os fiéis e falou:
– Com pandeiro ou sem pandeiro, hoje eu não dou cinzas: todos pra casa!
Foi aí que eu dei uma risada incrível. E minha mãe deu um cocorote na minha cabeça,
que dói até hoje. E o pior é que quando chegamos à nossa casa, minha mãe falou pro meu pai:
– Tenha cuidado com esse menino porque ele é comunista.
Meu pai sorriu depois que ela explicou o porquê do alerta.
Meu pai era muito amigo do Bispo de Natal. Ele sempre visitava o Bispo e sempre me levava com ele. E só muitos anos depois foi que despertei para a possibilidade de uma intenção do meu pai, para o Bispo me ajudar. E ainda hoje me lembro do meu susto naquele dia, quando o Bispo falou pro meu pai:
– Joaquim… assim que o Afonso tiver maioridade, vou levá-lo para ele se tornar um padre. Ele tem toda característica para a religião.
A partir daquele dia eu procurava sempre me esconder quando meu pai saía para visitar o Bispo. Na verdade, eu nunca fui ateu nem desprezei religião nenhuma. Apenas não me acomodo em nenhuma. Mas me sinto muito feliz em me sentir bem na racionalidade. Que é onde se respeita o direito de cada um ser o que bem lhe fizer bem. Todos de mãos dadas. Com respeito recíproco.
Nos anos sessentas, eu fazia um curso na Rua Barão de Itapetininga, ali no Centrão de São Paulo. Certo dia, quando entrei na sala o professor falou bem alegre:
– Oi Afonso… fiquei sabendo que você é ateu: é verdade?
Ele sorria e a turma esbanjava sorriso. E sem entender respondi:
– Graças a Deus!
E espero que você entenda. Eu nuca fui ateu nem concordo com nenhum. Pense nisso.
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