Mais um acidente envolvendo uma pessoa conduzindo bicicleta elétrica foi registrado na segunda-feira, desta vez no bairro Centenário, na zona Oeste da Capital, com ferimentos graves. Ainda não há estatísticas oficiais que apontem a gravidade do problema, mas relatos e notícias diárias indicam que se trata de um problema sério que diz respeito não somente à questão de trânsito, mas também à saúde pública.
Não são apenas adultos que utilizam esse tipo de transporte para ir ao trabalho, fugindo do estresse diário do transporte público, mas também adolescentes que ganham o veículo para ir para a escola – e até mesmo lazer -, muitas vezes como forma de os pais se desobrigarem da ocupação que tomam seu tempo no trânsito. E isso aumenta ainda mais os riscos de acidentes, pois são adolescentes ainda sem qualquer experiência disputando espaço no já conturbado trânsito boa-vistense.
No geral, as bicicletas elétricas se tornaram a principal opção não apenas por ser um transporte mais acessível pelo preço e o não pagamento de impostos obrigatórios, mas também por não exigir Carteira Nacional de Habilitação (CNH), o que significa mais pessoas não preparadas para lidar com a realidade do trânsito, ou seja, mais suscetíveis a se envolverem em acidentes nas ruas e avenidas já conflagradas pela imprudência e irresponsabilidade.
É exatamente isso o que está ocorrendo em Boa Vista, com muitos adultos e adolescentes acidentados, fazendo aumentar o atendimento nos serviços de saúde pública de emergência, nas Unidade de Terapia Intensiva (UTIs) e clínicas ortopédicas estadual e conveniadas, além de muitos afastados do trabalho e da escola, afetando o mercado de trabalho e a vida das pessoas, várias delas com graves sequelas ou inválidas para o resto da vida.
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Diante desse quadro, a sociedade não pode ficar assistindo a tudo isso sem tomar atitudes, jogando a responsabilidade somente nos governos. As escolas e os pais, por exemplo, já deveriam ter assumido suas responsabilidades há muito tempo, orientando crianças e adolescentes, especialmente aqueles que já usam bicicletas elétricas ou as normais para se locomover.
Aliás, a escola é (ou deveria ser) a principal responsável por essa primeira educação no trânsito, mas ela não tem recebido a estrutura adequada sequer para suas obrigações básicas de transmissão de conhecimento. De outro lado, há pais que não se preocupam sequer em ir à escola a fim de saber a situação de seus filhos, o que indica que também não estejam preocupados em orientá-los a respeito de suas responsabilidades e riscos no trânsito, fugindo de suas responsabilidades dentro de casa também.
E assim estamos não só a mercê de sermos vítimas dessa guerrilha no trânsito, mas contribuindo para que a situação se agrave, sob o argumento de que a culpa está somente nos governos. É fato que as autoridades têm suas culpas, mas essa realidade não irá mudar se as pessoas assumirem suas responsabilidades. De nada adiantará uma cidade sitiada por câmeras de segurança e blitz se a população não mudar seu comportamento. A realidade das bicicletas elétricas comprova isso.
*Colunista