Não será nenhum grande projeto ou empreendimento, nem Linhão de Tucuruí ou conexão comercial com a Guiana ou algo assim que irá fazer Roraima deslanchar ao tão almejado desenvolvimento. Obviamente que tudo isso dará sua contribuição. Mas o ponto de partida decisivo para alcançar esses novos tempos será a desinfecção do Estado por completo, livrando as instituições da corrupção e dos bandidos travestidos de autoridades cometendo os mais diversos crimes.
Não bastassem os casos de policiais investigados pelos mais diversos crimes, entre milícia, narcogarimpo, venda ilegal de armas, corrupção eleitoral e assassinatos, nessa quinta-feira, 25, uma operação da Polícia Civil para combater a exploração sexual de adolescentes em Boa Vista revelou a participação de um major da Polícia Militar e um policial civil, além de um analista judiciário do Tribunal de Justiça de Roraima.
Como a memória é curta, é preciso lembrar que essas pessoas não tiraram nenhum exemplo do passado, quando em 2008 a Polícia Federal deflagrou a Operação Arcanjo, cujo processo foi concluído com 7 réus presos pelo escândalo de pedofilia, com as penas somando 300 anos. Foram ao menos 19 crianças e adolescentes vítimas de esquema que envolvia servidores públicos e empresários, incluindo um major da PM.
Essa operação da Polícia Civil ocorreu dias depois de uma das acusadas de ser a principal aliciadora de crianças ter ganhado liberdade após ter cumprido 17 anos de prisão em regime fechado. Em novembro do ano passado, quem ganhou liberdade para cumprir pena no semiaberto foi Luciano Queiroz, ex-procurador do Estado de Roraima, condenado a 202 anos de prisão por estupro de vulnerável em 2009.
Fazendo uma análise com a realidade atual, os repetidos casos de pedofilia mostram que as condenações dentro dos processos do maior escândalo que revoltou a opinião pública, mostrando que a Justiça pode alcançar qualquer pessoa independente de classe social, não intimidaram as pessoas nem serviram de alerta, especialmente dentro das polícias e dos demais órgãos dos poderes constituídos.
A impunidade que costuma a reinar principalmente dentro da política e das classes sociais mais abastadas parece um motivador para que agentes públicos continuem no cometimento de crimes. E isso parece ter um grande fundo de verdade diante dos deputados federais que aprovaram a PEC da Blindagem visando ter imunidade ampla para cometimento de crimes.
É por isso que a sociedade tem o dever de cobrar a desratização ampla e irrestrita na política para que bandidos travestidos de autoridades sejam desmascarados e punidos. Em Roraima, o desejo de desenvolvimento só será alcançado quando a corrupção na política for combatida e os agentes públicos não se sintam livres para cometer crimes, a exemplo do que ocorreu na Operação Arcanjo e do que está ocorrendo hoje, além dos exemplos dos casos de dinheiro na cueca dos políticos.
*Colunista