No mínimo, era para ter provocado uma séria reflexão o gravíssimo acidente de trânsito em que um caminhão colidiu com uma motocicleta com duas mulheres, passando com as rodas por cima das vítimas, na manhã desta quinta-feira, 4, no movimentado cruzamento das avenidas Ataíde Teive e Nossa Senhora de Nazaré, no bairro Asa Branca, zona Oeste da Capital. No entanto, as imagens perturbadoras parecem “apenas mais uma” nessa guerrilha do trânsito roraimense.
No máximo, o triste episódio deveria ter chamado a atenção das autoridades para que assumam suas responsabilidades, a exemplo dos vereadores de Boa Vista, que estão mais preocupados com a cassação de seus pares, inclusive do presidente da Câmara, Genilson Costa, que recorre no mandato por sua cassação após ter sido preso pela Polícia Federal em 6 de outubro de 2024, suspeito de corrupção eleitoral e de integrar um esquema de compra de votos, além de ser investigado por tráfico de drogas.
Um dos fatos a ser destacado é que as autoridades de trânsito em todos os níveis de governo já deveriam ter regulado sobre a restrição de caminhões, por meio de um conjunto de medidas, a fim de estabelecer dias e horários em que os veículos pesados devem circular em setores importantes de Boa Vista, de acordo com a intensidade do tráfego, evitando conflitos no trânsito urbano, protegendo não só o tráfego de veículos menores, além de motos, bicicletas e pedestres. No entanto, até tratores transitam nas principais avenidas em horários de pico.
Outra questão é sobre a óbvia necessidade de uma campanha educativa de trânsito para alertar sobre a importância da população em fazer sua parte também. No vídeo do trágico acidente, é possível visualizar que os motociclistas não se atentaram para o grande risco que é ficar parado, esperando o sinal abrir, em frente de um caminhão cujo motorista não tem como enxergar quem está não só ali, mas em todo o seu entorno. E o resultado foi que a moto com as duas mulheres demorou a sair, tornando-se alvo fácil da colisão.
Nos vídeos de quase todos os acidentes com vítimas que foram divulgados este ano, é possível verificar a imprudência e a imperícia da maior parte dos condutores, bem como a irresponsabilidade criminosa de outros que provocaram vítimas com mortes. Isso deveria estar em pauta entre os vereadores, autoridades de trânsito e as instituições que deveriam tomar alguma atitude.
É importante destacar que o Ministério Público de Roraima (MPRR) lançou o projeto “Restaurando Condutores”, visando promover ações preventivas, educativas e restaurativas para a segurança no trânsito, iniciativa em conjunto com órgãos e polícias de trânsito, além de outras instituições., promovendo palestras educativas sobre segurança no trânsito para condutores que firmarem Acordos de Não Persecução Penal (ANPP) ou Suspensão Condicional do Processo.
No entanto, é preciso muito mais para romper o ciclo de imprudência e promover atitudes realmente seguras e responsáveis no trânsito, com a expectativa de reduzir a reincidência de infrações e acidentes, conforme é a proposta do projeto do MPRR. Mas parece que uma síndrome de paralisia institucional se apossou das autoridades roraimenses, a qual atinge não só o trânsito, mas também a Segurança Pública e outros setores.
A única pauta dos políticos é a cassação de candidaturas, que irá definir as eleições no próximo ano, assunto que realmente os interessa a eles. Fora isso, pode morrer no trânsito, na violência urbana e nos hospitais que isso não os comove. Nem alarma mais a sociedade, que assiste esperando avidamente pela próxima compra de votos.
*Colunista
