Opiniao 07 02 2019 7655 Opiniao 07 02 2019 7655 Opiniao 07 02 2019 7655 Opiniao 07 02 2019 7655

A diferença entre SER e TER

Flávio Melo Ribeiro*

A diferença entre Ser e Ter, embora óbvia, é bastante confundida. Geralmente quando se pergunta a alguém quem ela é, geralmente responde o que ela faz e tem. Responde qual a sua profissão, o que gosta de fazer, seu lazer, estudo, atividades profissionais e com quem se relaciona. Muito raramente falam do seu Ser, suas características, seus valores, seus desejos e projetos. Mas o conhecer alguém vai além do que ela adquiriu e do que ela faz. Dizer que conhecemos alguém é conseguir antecipar o que essa pessoa vai fazer diante das situações, pois se sabe quem ela é em seu Ser. Conhecendo a subjetividade sabemos quem o outro é.

A maior diferença psicológica que se encontra entre Ser e Ter está na segurança que a pessoa pode ter. Uma pessoa segura de si, primeiramente, sabe quem ela é e, com isso, consegue definir com clareza quem ela quer ser num futuro. Dessa forma, ela sabe o que deseja possuir e o que é necessário fazer para alcançar. Sendo assim, mesmo que no caminho ela encontre adversidades, essas não serão um peso para sua vida, mas dificuldades que precisam ser superadas. O caminho percorrido, mesmo sendo difícil, é leve de ser vivido. Em contrapartida, uma pessoa insegura é aquela que acredita que precisa ter determinadas coisas para então começar a fazer e, consequentemente, ela espera que será um destaque, pois se tornará aquela pessoa que no fundo ela já deseja ser, mas não é. Mas dessa forma ela ou paralisa e nem inicia as atividades a que se propôs, ou as realiza de forma insegura com grande chance de dar errado. Além disso, é bastante comum reclamar das dificuldades que o caminho apresenta.

Outra grande diferença se encontra quando se mede a confiança que se tem em alguém. A confiança não vem pelo que a pessoa tem, mas pelo que ela é. A ação de uma pessoa que inspira confiança passa uma certeza, pois ela leva em consideração as consequências que ocorrerão ao seu redor, tanto no campo material, como na relação das pessoas que serão afetadas. E isto só é possível se os valores que constituem sua personalidade são de boa índole.

Experimente numa próxima oportunidade falar a respeito de você e seus projetos. Alguns gostarão, mas outros acharão estranho, porque na realidade não querem saber como realmente você é, apenas manterão a confusão entre Ser e Ter e se enganarão achando que lhe conhecem.

*Psicólogo – CRP12/00449

E-mail: [email protected] 

Contato: (48) 9921-8811 (48) 3223-4386

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O fator humildade

Wender de Souza Ciricio*

A mitologia grega e as sereias. Relata-se que eram lindas, atraentes, sedutoras, irresistíveis e de um canto recheado de doçura. Filhas do deus-rio Aquêloo com Melpômene viviam numa ilha que era rota de várias embarcações na antiga Grécia. Todos os navios que ali passavam não podiam evitar aquelas músicas tão doces e suaves. O encanto era tão surreal que nenhuma tripulação conseguia navegar naquela rota sem ali parar. Essa situação, porém, tinha um resultado desastroso para os navegantes. Ao se aproximar da ilha, os navios batiam no rochedo, naufragavam, a sereias aproveitavam e comiam os tripulantes. Eram adeptas da antropofagia.

Orfeu, grande músico, obrigado a navegar naquela região, sabedor das irresistíveis sereias assassinas, elaborou uma estratégia. Quando ali se aproximasse, tocaria suas músicas bem mais suaves e envolventes do que as músicas das sereias. Ao aplicar sua estratégia passou, com sua tripulação, sem nenhum prejuízo e arranhão, estavam incólumes e inteiros. Ulisses foi outro herói grego que também teria que por ali navegar. Este não tinha os talentos de Orfeu, era limitado, pequeno diante do poder das sereias, mas era corajoso, inventivo e arrojado. Sua estratégia foi simples e criativa. Ao se aproximar da ilha de sangue, colocou cera nos ouvidos dos tripulantes, mandou que os mesmos o amarrassem no mastro do navio e ali o deixasse mesmo que gritasse e implorasse para ser solto. A tripulação fez como combinado, quanto mais Ulisses gritava, mais apertavam a corda. Deu certo, Ulisses, o limitado, conseguiu superar as imbatíveis sereias. Decepcionadas as sereias cometeram suicídio.

O que aprendemos nessa leitura? Orfeu era consagrado, tinha talento de sobra para superar o inimigo. Ulisses era pequeno, limitado e sem talentos musicais. Entretanto, a barreira foi rompida e foi assim exatamente porque ele reconheceu sua limitação. Não correu do perigo, se colocou sob os cuidados da tripulação. Isso é humildade. As pessoas dão certo na vida quando reconhecem seus limites. Ninguém nasce pronto e acabado. Temos uma escalada, estamos dentro de um processo, de uma trajetória e numa estrada que não termina em um metro. Humildade é fundamental para quem quer vencer, romper barreiras e lutar contra o inimigo.

Humildade está relacionada com condescendência e reconhecimento de fraqueza. Admite erros sem se preocupar em justificativas. Na humildade não cabe altivez, arrogância e soberba. Na esfera da humildade não se usa salto alto e não concorda em humilhar e pisar outros. A humildade dialoga com quem está no térreo, na sarjeta, ministra perdão e não se enxerga superior a ninguém. Nesse ambiente a preocupação não é a ostentação, mas em ser um humano que lida com pessoas de todas as etnias e de todas as classes sociais, sem empáfia e sem esnobar.

Lamentável como nosso Brasil está abrindo mão dessa virtude. As redes sociais estão recheadas de jovens sem leitura, sem dar tempo ao processo da aquisição de sabedoria, sem ler um livro sequer, debatendo de modo arrogante e absoluto. No trânsito, as pessoas estão se matando nos xingamentos. Os pais vão à escola colocar o dedo no nariz do professor que falou duro com alunos petulantes e insuportáveis. Pisamos casca de ovos para não aguçar a delicadeza e sensibilidade desse Brasil cada dia mais altivo e cheio de donos da verdade. Falta-nos humildade. Onde vamos parar com ausência de uma virtude tão nobre e essencial?

A humildade é a virtude que não podemos deixar fugir de nós. Com ela venceremos obstáculos. O Jesus Cristo, histórico e teológico, quando aqui veio não se pôs acima de reis e sacerdotes. Nasceu num lugar compartilhado com bois e rebanhos. Esvaziou de si mesmo, deixando voluntariamente de usar todo seu poder para um dia vencer e vencer em favor de pessoas. Jesus é exemplo maior de humildade, inspirou o herói indiano Mahatma Gandhi, o desmedido Martin Luther King e o vencedor sul-africano Nelson Mandela.

Um chamado à humildade nos faria muito bem. O barulho da humildade deve ressoar em meus e em nossos ouvidos, nos ouvidos de governantes, jovens, adultos e em todos seres desse universo. Isso é um dos passos para vencermos sereias, inimigos e criar equilíbrio no trato com outros. Decida-se pela humildade.

*Psicopedagogo, teólogo e historiador

[email protected]

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O álcool e o papel do médico

Guilherme Messas*

Os médicos têm papel fundamental no controle e no tratamento de problemas relacionados ao consumo de álcool. Os problemas ligados à bebida acontecem de diversas maneiras. Estão no cotidiano, quando a pessoa que bebe no dia a dia, por exemplo, bate o carro ou comete alguma ação irresponsável e em casos de uso abusivo ou dependência.

Como tudo isso acontece no dia a dia das famílias, a pessoa que mais consegue influenciar esse comportamento, por ter mais contato com as famílias e com os pacientes, é o profissional médico, que tem a capacidade de convencer as famílias de que está acontecendo um problem
a, podendo ajudá-las a dar um encaminhamento profissional para um problema muito frequente na sociedade brasileira.

É um grande desafio nacional conseguir alertar e convencer os médicos do papel extremamente relevante que eles têm para apoiar as pessoas que já enfrentam necessidades de atendimento e orientação e as famílias que precisam de apoio social e que podem ter no médico o melhor instrumento para isso.

*Psiquiatra especialista em Álcool e Drogas, é Professor e Coordenador do Programa de Duplo Diagnóstico em Álcool e Outras Drogas da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. É Coordenador da Câmara Temática Interdisciplinar sobre Drogas do Conselho Regional de Medicina de São Paulo.

Contato: [email protected]

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A luta renhida

Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Lutar pelo amor é bom, mas alcançá-lo sem luta é melhor.” (Shakespeare)

O amor não tem definição. E lutar por uma coisa que não conseguimos definir, me parece tolice. A vida, segundo minha visão, está fixada em quatro pilares: o amor, o sexo, a paixão e o ciúme. Cabe a cada um de nós saber como viver dentro desse círculo. Lutar pelo amor de alguém é não se valorizar. Porque o amor se conquista com amor, e não com luta. E o início está em saber manter o amor sem reclamar retorno. Afinal de contas, você não está vendendo nem emprestando seu amor. E só quando entendemos isso, vivemos o amor. A união física é apenas uma união. Tanto pode ser guiada por amor quanto desejo. Viva o amor. Só ele nos traz felicidade. Sofrer por amor ou pelo amor é uma tolice incomensurável.

A Terra é um vulcão. Cabe a cada um de nós saber viver na caminhada sobre as brasas e lavas. E só quando sabemos como pisar sobre as pegadas dos que já atravessaram o campo minado é que o atravessaremos com tranquilidade. E se é assim, vamos caminhar sobre os saberes dos que já viveram a vida como ela deveu ser vivida. As avalanches da vida não mudarão. Nós é que devemos mudar orientados pelos acontecimentos. Sofrer por amor é falta de amor. Porque só amamos alguém quando somos capazes de amar a nós mesmos. E quando nos amamos, amamos as outras pessoas. E quando as amamos respeitamos o que elas são. E assim, não devemos exigir que elas nos amem.

Debulhar o milho do conjunto amor, sexo, paixão e ciúme é fundamental para que vivamos em paz conosco mesmo. O amor, nós já sabemos, não tem definição. O sexo é vida; a paixão é um descontrole emocional; o ciúme é um descontrole mental. Quando sabemos controlar este quarteto, vivemos em paz conosco. E quando vivemos em paz, não perturbamos os outros. É quando sabemos que somos todos iguais nas diferenças. Porque somos todos da mesma origem. E que todos voltaremos ao nosso Universo Racional, de onde viemos. O que nos leva a cuidar mais de nós, cuidando dos outros em estado de evolução inferior ao nosso.

A Terra é uma fogueira em constante queimada. O importante é que saibamos viver a vida para que não sejamos queimados. E nos queimamos quando não sabemos desfrutar o que há de melhor no mundo em evolução. E o que há de melhor está dentro de nós mesmos. Vamos viver cada dia de nossas vidas, dentro da racionalidade. Preocupar-se ou aborrecer-se com o que há de pior nos priva do melhor. Só os do nível mais inferior é que praticam o mal, em nome do amor. Vamos nos equilibrar na corda bamba dos maus acontecimentos, para que não caiamos no lamaçal. Pense nisso.

*Articulista

[email protected]

99121-1460

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