Residencial Vila Jardim vive sob ameaça de uma guerra entre faccionados (Foto: Divulgação)

Depois de fazer vistas grossas sob o argumento de que os crimes brutais cometidos por faccionados venezuelanos em Boa Vista eram apenas “problema de venezuelanos”, as forças de segurança estaduais perderam o controle sobre a atuação do crime organizado em Roraima sob o comando de facções, deixando para agir apenas de forma pontual como estratégia para dar satisfação à opinião pública.

A consequência disso é que os faccionados brasileiros e venezuelanos avançaram em suas atuações a ponto de ter surgido uma “declaração de guerra” nos grupos de mensagens, com foco no Residencial Vila Jardim, no localizado no bairro Cidade Satélite, com ameaças de que membros de uma facção de Manaus (AM) iriam tomar o poder de outra facção brasileira rival e da facção venezuelana que atuam na Capital roraimense.

Como não há, em Roraima, uma política de governo efetiva para o enfrentamento à disputa de facções criminosas, as autoridades policiais decidiram sair de seus gabinetes para realizar uma grande operação no Vila Jardim, na noite dessa terça-feira, sob o nome de 4ª edição da Operação Soberania, a qual é realizada somente por conveniência das autoridades, e não para sufocar o crime de forma contínua e ostensiva.

Seria uma desmoralização para nossas autoridades esperarem que os áudios e textos que circularam nos grupos de mensagens, na semana passada, se confirmassem como apenas provocações de meliantes ou uma ameaça séria de lideranças de faccionados de Manaus contra os bandidos de Boa Vista.  Coincidência ou não, cercaram o Vila Jardim e áreas adjacentes no entorno do Anel Viário, incluindo o bairro João de Barro, como forma de mostrar alguma reação à ação de criminosos que se apossaram daquele conjunto habitacional.

O fato é que não há mais como fingir que nada de grave está acontecendo, pois a disputa entre facções se estende por diversas regiões do país, provocando altos índices de violência. As facções Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC) estão em disputa por território em várias cidades. Só que, em Boa Vista, há um fator preponderante: a atuação da facção venezuelana Trem de Aragua, especialista em atuação em garimpo e no fornecimento de armas ilegais.

Nas avaliações das autoridades policiais durante a operação da noite passada, a fala é que essas operações irão se estender para o interior de Roraima, o que é apenas um discurso que não se sustenta à realidade dos municípios do interior, onde localidades como o Amajari sequer existe uma delegacia da Polícia Civil instalada na cidade, cabendo a policiais militares fazerem o papel até de juiz, porque é inviável levar todas as ocorrências para a Delegacia de Pacaraima.

O fato é que a sociedade roraimense quer acreditar que essa operação desencadeada na noite de ontem, no Vila Jardim, se tornasse um padrão de atuação da Segurança Pública. No entanto, as autoridades não conseguem sequer colocar ordenamento na principal via pública utilizada pela elite roraimense, a Avenida Ville Roy, na mesma medida em que essas operações costumam enquadrar condutores pobres com seus veículos com documento atrasado.

*Colunista

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