JESSÉ SOUZA

O meteoro que provoca estragos no principal ponto turístico não veio do céu

O meteoro que provoca estragos no principal ponto turístico não veio do céu
Moradores fazem mutirão para consertar ponte de madeira enquanto buracos na RR-203 são tapados com barro

Um vídeo narrando fatos mentirosos sobre a Serra do Tepequém, ponto turístico localizado no Município de Amajari, Norte de Roraima, circulou nas redes sociais na semana passada, ganhando ampla repercussão. A postagem afirma que Tepequém teria surgido de um impacto de um meteoro há milhões de anos e que o local esconderia uma cidade soterrada, sendo comparada à lendária Atlântida.

O tom sensacionalista da narração inverídica até ajudou a divulgar o principal ponto turístico de Roraima, no entanto é preciso restabelecer a verdade sobre esse Tepuy que faz parte do Escudo das Guianas.  Tepequém é uma formação geológica antiga, apontada em vários estudos geológicos como um relevo residual de rochas sedimentares da Era Paleoproterozoica, que é a mesma formação do Monte Roraima.

O único meteoro que caiu na região e faz estragos até hoje é a forma arcaica de se fazer política, que ignora solenemente o turismo, com pontes de madeiras pré-históricas, caindo aos pedaços, que provocam acidentes e levam riscos a moradores, produtores e turistas que visitam a região, além de uma estrada esburacada devido a obras de recuperação que desafiam os órgãos fiscalizadores desde o ano de 2020.

Neste fim de semana, a Serra do Tepequém recebeu um evento de ciclismo, que reuniu amantes desse esporte que tiveram que recorrer à Prefeitura do Amajari para que ao menos fizesse um operação tapa-buraco com barro a fim de melhorar a trafegabilidade da RR-203. Uma vergonha para o poder público, que também não cumpre com a obrigação de substituir as pontes de madeiras por estruturas de concreto.

A situação chegou a um nível tão crítico que os próprios moradores tiveram que realizar um mutirão, na sexta-feira passada, para tapar os buracos na ponte de madeira sobre o Igarapé Tucumã, já que os políticos não querem cumprir com suas obrigações. Inclusive, na semana anterior, um morador de Tepequém que trafegava de moto caiu dessa ponte e por pouco não perdeu a vida.

Enquanto  alega falta de recurso para construir pontes de concreto e recuperar a malha asfáltica da RR-203, o governo acaba de conceder isenção de imposto para o maior produtor de peixe de Roraima, cuja propriedade fica no Amajari. Ou seja, a isenção para um único grande produtor é exatamente o recurso que falta para garantir infraestrutura para a região, em uma contradição difícil de ser explicada.

Essa é a realidade enfrentada por quem vive do turismo na Serra do Tepequém, onde as obras de construção de um complexo turístico estão paralisadas há meses, sob a omissão de quem deveria fiscalizar. Não bastasse isso, ainda surgem vídeos mentirosos que fantasiam a realidade do principal ponto turístico enquanto uma política pré-histórica é o principal meteoro que provoca estragos na região.  

*Colunista

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