
Para quem adota o discurso de que não gosta de política e que não tem interesse em saber sobre corrupção, a questão da Universidade Estadual de Roraima (UERR) é um exemplo prático dessa realidade. Hoje, a instituição paga um preço alto por anos de desmandos, com reflexos em todos os setores e, nos últimos dias, com falta de pagamento dos servidores terceirizados e do aluguel de computadores, o que tem obrigado a UERR a adotar teletrabalho e ensino remoto.
A crise não é de hoje e vem se ampliando ao longo dos anos, a ponto de a instituição suspender vestibulares no interior do Estado e até mesmo a colação de grau dos estudantes no anos de 2022, 2023 e 2024. Já naquela época falava-se em fechar cursos nos municípios e retirar pagamento de gratificação de interiorização, o que significaria a impossibilidade dos professores em seguir ministrando aulas.
A população só veio entender o que realmente estava ocorrendo com a UERR em agosto de 2023, quando a Polícia Federal deflagrou a Operação Harpia e apreendeu R$ 3,2 milhões em dinheiro vivo destinados, conforme as investigações, ao pagamento de propina. A quantia estava embalada em fardos com etiquetas de R$ 50 mil, escondidos dentro de sacos de lixo nos fundos da casa do irmão de um empresário ligado ao suposto esquema.
O então reitor Regys Freitas, outros servidores e ex-servidores da universidade foram alvos da operação que começou a investigar desvios milionários em contratos públicos, com fortes indícios de que mais de R$ 100 milhões teriam sido desviados por meio de fraudes em licitações na universidade. Só aí já seria possível deduzir o motivo pelo qual a instituição vem enfrentando seguidas e longas crises.
O reitor foi exonerado e galgado a um novo cargo, o de controlador-geral do Estado, uma prática recorrente com quem é investigado por corrupção, que é apenas brindar com outro cargo. Regys Freitas só foi exonerado da Controladoria quando foi preso em uma nova investida da PF, durante Operação Cisne Negro. Na residência dele foram apreendidos joias, relógios de ouro e dinheiro vivo: 4 mil euros, 6 mil dólares e mais de R$ 7 mil em espécie.
Aí está uma pequena radiografia de quando a sociedade se exime de ficar atenta à política e à fiscalização das instituições a fim de evitar desmandos. Todos os atos de corrupção têm consequência direta para a população, principalmente nos setores importantes como Educação, Saúde e Segurança Pública, os quais recebem vultosas somas de recursos constitucionais e são preferencialmente alvos de ganância dos corruptos.
Para se ter uma ideia da infestação dos crimes em Roraima, a Polícia Federal realizou ao menos 20 operações em 2025 no Estado, entre garimpo ilegal, corrupção, tráfico de drogas, descaminho de bens e fraudes em licitações. Não é um dado oficial, pois inexiste uma estatística divulgada para a opinião pública. Esse número é baseado em relatos oficiais do site da PF e de veículos de comunicação referentes ao período de janeiro até o presente momento de dezembro.
Essas operações resultaram em apreensões significativas: mais de 200 kg de ouro (equivalente a R$ 179 milhões), bloqueios de bens acima de R$ 50 milhões e prisões preventivas. A maioria das ações da PF envolveu parcerias com órgãos como Controladoria-Geral da União (CGU), Receita Federal e Força de Segurança Nacional.
Não é só a UERR que clama por socorro. O Estado de Roraima está em ataque. E isso não pode ser normalizado como se fosse um embate de “esquerda x direita x ultradireita”. É o nosso futuro como Estado e como sociedade que está em jogo.
*Colunista