Eleições de 2024 foram marcadas pelas operações da PF (Foto: Divulgação/PF)

Enquanto os políticos estão em pré-campanha eleitoral, fazendo conjecturas, balões de ensaio, enquetes e negociações de bastidores, mais um jovem venezuelano, de 29 anos, foi executado a tiros em local de trânsito intenso no bairro Jóquei Clube, na zona Oeste da Capital, na tarde ontem, confirmando que os faccionados venezuelanos não se intimidaram com as operações policiais que vêm sendo realizadas. A vítima já havia sido presa por tráfico de drogas, o que indica um acerto de conta.

Se facionados estrangeiros seguem com os mesmos modus operandi na criminalidade, na política a forma de operar é a mesma, conforme mostram duas decisões, uma da Justiça Eleitoral e outro do Ministério Público Eleitoral, divulgadas horas antes do assassinato no Jóquei. Uma delas é da 5ª Zona Eleitoral de Boa Vista, que cassou o mandato do vereador Deyvid Carneiro por compra de votos e abuso de poder econômico e político nas eleições de 2024.

Embora a decisão determine que Tribunal Regional Eleitoral (TRE) recalcule o coeficiente eleitoral, o que pode alterar a composição na Câmara de Boa Vista, o vereador vai recorrer sem perder o mandato, conforme tem ocorrido em outros casos em que vereadores, prefeitos e governadores cassados seguem no bem-bom do cargo até o fim. Um detalhe importante: no dia abordagem feita pela Polícia Federal, Deyvid Carneiro estava com dois policiais penais e um instrutor de tiro, além de armas, dinheiro, listas de eleitores e materiais de campanha.

A segunda decisão partiu do Ministério Público Eleitoral, que recomendou que a 4ª Zona de São Luiz do Anauá, Sul do Estado, declare a deputada federal Helena Lima inelegível até 2030, sob acusação de financiar um suposto esquema de compra de votos para a reeleição do vereador Adriano Costa, de São João da Baliza, nas eleições de 2024. Aos fracos de memória, é importante lembrar que a parlamentar é casada com o empresário Renildo Lima, que foi preso pela PF com dinheiro na cueca no ano passado.

Detalhe importante do episódio: o empresário estava com outras cinco pessoas quando foi abordado e preso em via pública, durante as eleições de 2024, entre elas uma advogada e dois policiais militares do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) da Polícia Militar, após uma denúncia sobre compra de votos. O episódio ganhou ampla repercussão na mídia, inclusive porque ele é o dono da empresa aérea que faz voos para a saúde Yanomami desde o governo Bolsonaro, além de citações em investigações sobre supostos voos clandestinos para o garimpo ilegal.

As eleições do ano passado foram marcadas por prisões de políticos.  É igualmente importante lembrar que a PF prendeu o presidente da Câmara de Boa Vista, Genilson Costa, que foi reeleito não só a vereador como também para a Presidência da Câmara, apesar das graves acusações contra ele. O detalhe importante: com o vereador foi preso o então subcomandante da Polícia Militar, coronel Francisco das Chagas Lisboa; a esposa do parlamentar, uma policial civil, é uma das pessoas investigadas.

O vereador e o coronel são investigados por supostamente receberem apoio financeiro do tráfico de drogas para compra de votos nas eleições municipais de 2024 durante a Operação Martellus, que apreendeu inclusive uma pepita de ouro. Apontado como o informante do vereador sobre denúncias recebidas a respeito de investigação de compra de votos, o coronel perdeu o cargo de subcomandante após ser solto, mas foi brindado com outro ao assumir o Departamento de Inteligência da PM, um cargo sensível porque pelas mãos deles passam informações inclusive de policiais investigados pela PF.

Antes dessa prisão, o vereador já vinha sendo investigado pela Justiça após ser denunciado pelo Ministério Público de Roraima (MPRR) por suspeita de integrar um esquema de tráfico de drogas em Roraima, inclusive de fazer negociações de drogas de dentro do gabinete parlamentar. O inquérito policial aponta que Genilson não só teria recebido patrocínio do tráfico para o exercício de suas atividades parlamentares, mas também para a disputa à presidência da Câmara.

Como é crível, em todas essas operações envolvendo políticos estavam lá policiais dando apoio aos investigados, mostrando a perigosa realidade a que o Estado foi submetido. Não parece difícil notar que, enquanto policiais estão envolvidos em esquemas que vão além das investigações de crimes eleitorais, como milícias, narcogarimpo, venda ilegal de armas, assassinatos e outros, o crime organizado se encorpou no Estado.

Enquanto policiais se envolvem nos esquemas eleitorais, os criminosos brasileiros se associaram a facções venezuelanas, entraram para o negócio do narcogarimpo e hoje fazem suas próprias leis na Capital, executando suas vítimas no meio da rua, não se importando com o local público e movimentado. E no próximo ano já teremos novas eleições e muito provavelmente com as mesmas cenas repetidas nas operações policiais…

*Colunista

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