As três grandes operações deflagradas na semana passada em oito estados brasileiros, atingindo em cheio o coração financeiro de São Paulo, na Avenida Faria Lima, deram a dimensão do tamanho do desafio da Segurança Pública no país, ao revelar que, no centro do crime organizado que movimentou bilhões, está a facção criminosa paulista PCC (Primeiro Comando da Capital), que atua em Roraima e outros estados amazônicos no garimpo ilegal.
De tabela, a partir dos desdobramentos das operações que mostram que o PCC, postos de combustíveis e fintechs operaram R$140 bilhões em movimentações criminosas, é possível ter uma ideia do fosso em que está a Segurança Pública em Roraima, onde passou-se a disseminar a concepção de que a saída são operações policiais em beira de rodovias e em ações de encostar pessoas na parede de bares na periferia.
Também há quem defenda que a ordem só será mantida na base do “tiro, porrada e bomba”, desviando energia e atenção para a urgente necessidade de uma política pública de Segurança Pública que vise não só essas ações operacionais, mas também investimento em investigações e serviço de inteligência com novas tecnologia para enfrentar essa nova realidade que não se trata apenas de combater o tráfico de droga, mas um esquema bem mais poderoso.
Enquanto os seguidos governos mantêm a mesma concepção de que os policiais devem ser preparados para uma guerra nas ruas, correndo atrás de pequenos traficantes, faccionados delimitando territórios e outros bandidos de alta periculosidade, surge um modelo de segurança focado no “policial herói”, que faz uma oração antes de sair para as ruas, como se fosse para uma guerra, e que está predisposto a sequer ser contrariado de alguma forma.
Enquanto isso, o crime realmente se organizou e se instalou dentro de grandes corporações, da política, da polícia e do mercado financeiro. Não se trata apenas de tráfico de droga aos moldes de antigamente, com disputa de território na periferia, e o garimpo ilegal em inóspitas terras indígenas. Os bandidos estão no coração financeiro do país, na Faria Lima, endeusado pela extrema direita.
Enquanto essa nova realidade do crime organizado não for assimilada por uma política pública definitiva para a Segurança Pública, os criminosos estarão cada vez mais poderosos, enquanto policiais idealizados para serem “heróis” estarão enxugando gelo, disseminando mais violência ou sendo apontados por seus “atos heroicos” a ocuparem uma cadeira no Legislativo como premiação por fazerem o discurso de “tiro, porrada e bomba” como política de Segurança.
A violenta Capital do Amazonas, Manaus, tornou-se exemplo disso, onde um sargento da Polícia Militar foi eleito vereador como o candidato mais votado nas eleições passadas, com 22.594 votos conquistados por essa fórmula em que a Segurança Pública brasileira promove policiais operacionais a personalidades, enquanto faltam políticas públicas para enfrentar os criminosos cada vez mais organizados e poderosos.
Roraima há tempos está infectado por essa nova face do crime, conforme operações policiais e notícias sobre PMs, políticos e seus familiares investigados por venda ilegal de armas para o garimpo ilegal e formação de milícias, além do tráfico de drogas. Enquanto isso, os seguidos governos repetem a mesma fórmula de Segurança Pública que atua em operações pontuais e nas ações “enxuga-gelo”.
Não se sabe exatamente se é falta de vontade política, incompetência ou mesmo forças não mais ocultas que agem a partir da Faria Lima, inclusive com barras de ouro desfilando pelas rodovias brasileiras.
*Colunista