Não é meme. Muito menos informação produzida por Inteligência Artificial. O presidente da Câmara, o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) liberou, nesta segunda-feira, outro pacote de emendas no valor de R$ 11 milhões para cada colega parlamentar, em uma medida muito parecida com a tática usada pelo seu antecessor, Arthur Lira (PP-AL) quando agiu para fortalecer o seu grupo dentro do chamado ‘Centrão’.
Motta nem deixou esfriar a polêmica sobre a derrubada do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) pela Câmara, intensificada pela matéria da TV Globo, que foi ao ar no Jornal Nacional na quinta-feira passada, 03, defendendo os deputados da onda de críticas, depois que vídeos gerados por Inteligência Artificial (IA) inundaram as redes sociais em defesa da taxação dos super-ricos e colocando o Congresso Nacional no centro das críticas como defensor dos bilionários e contra os trabalhadores.
Depois da ampla repercussão negativa, enquanto a Globo suspendeu a exibição da reportagem, que mais pareceu uma defesa dos super-ricos, ou seja, em favor dos próprios interesses dos donos da emissora, Hugo Mota não hesitou em liberar emendas parlamentares sem autorização, destinando recursos do orçamento público sem seguir as regras de transparência, rastreabilidade e controle exigidas legalmente.
Além dessa prática velhaca comprometer a governança e agravar a situação fiscal, aumenta os riscos de corrupção em um Congresso sob fogo cruzado depois dos vídeos que provocaram duros ataques virtuais direcionados ao presidente da Câmara, que na vida real acabou assumindo a identidade da sátira gerada por IA na qual ele é chamado de “Hugo Não Se Importa”. É como não se importasse mesmo depois de tudo o que as “emendas Pix” provocaram mediante o orçamento secreto.
Aliás, o impacto desse verdadeiro duto de verbas públicas destinadas sem qualquer critério é sentido até hoje em Roraima, em que uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR) desde março investiga o uso de recursos estaduais destinados ao Município de São Luiz do Anauá, no Sul do Estado, que entre os anos de 2020 e 2024 recebeu aproximadamente R$ 109 milhões em emendas parlamentares.
Sendo o menor município do Estado, com cerca de 7,3 mil habitantes, São Luiz do Anauá recebeu dinheiro do orçamento federal equivalente a 3 665% acima da média nacional per capita, dinheiro transferido por deputados e senadores diretamente ao município sem qualquer necessidade de ter uma destinação específica. Se fizeram isso em uma minúscula cidade roraimense, imagina o que não fizeram em outras localidades país afora!
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Esse montante liberado ontem por Motta, no meio de uma severa crise institucional, soma-se aos outros R$ 37 milhões já previstos para cada deputado por meio das emendas individuais, estas de execução obrigatória. É um escárnio à população brasileira, especialmente aqueles que vivem de salário mínimo e de uma classe média que paga altos impostos, enquanto os bilionários se recusam a ser taxados.
Para se ter uma noção da realidade, dos dez deputados mais ricos da Câmara, nove votaram para derrubar a alta do IOF. Não foi à toa que os vídeos feitos com IA tacharam a matéria da Globo e a decisão dos deputados de representarem os interesses dos bilionários e de atuarem contra os trabalhadores.
No entanto, pelo que se vê, o “Hugo Não Se Importa”.
*Colunista