Os últimos dias foram marcados por cenas de acidentes de trânsito na Capital e rodovias no interior do Estado que mais parecem cenas de filmes hollywoodianos sobre apocalipse, com carros capotados, colisões violentas e corpos de vítimas fatais expostos. Na absoluta maioria, a imprudência dos condutores foi a principal causa.
Tem ficado bem explícito que as pessoas têm se sentido à vontade para agirem com imprudência no trânsito diante de um cenário em que pouco se vê os responsáveis por acidentes serem responsabilizados judicialmente ou mesmo saírem dessas situações como se nada tivesse acontecido, poupados inclusive da exposição da opinião pública nas rede socais e na imprensa.
O caso recente de um acidente fatal na BR-401 é um exemplo da leniência com que os casos são tratados. Um dos veículos envolvidos na trágica colisão era conduzida por uma pessoa que é servidora pública e que dirigia um carro alugado por uma secretaria, em um fim de semana, fato este solenemente omitido da opinião pública, entrando para esse pacto informal de fingir que ninguém está vendo nada.
Em outro caso ocorrido no trecho urbano da RR-205, também recente, a vítima foi logo apontada como culpada, uma indígena apontada como responsável por ter atravessado na frente do carro. Da mesma forma que tentaram culpar um adolescente venezuelano que andava de bicicleta e sumariamente apontado como culpado ao ser atropelado por um carro em um bairro nobre, com o caso sendo inclusive arquivado pelo Ministério Público.
É desta forma que o trânsito vai se transformando nessa balbúrdia hollywoodiana, com os fatos sendo categorizados por conveniências de acordo com classe social ou interesse político. Indígena e venezuelano logo são culpados por suas próprias mortes. Os de classe social mais alta, mesmo dirigindo um veículo público visivelmente de forma irregular, são poupados de todas as formas possíveis.
Dentro dessa ótica é que ninguém está ligando para o que está ocorrendo no Estado, pois uma reação por meio de tolerância zero no trânsito, a fim de combater as flagrantes imprudências, iria perturbar a elite intocável do outro lado da cidade, a qual se sente acima da lei e detentora do poder de não ser incomodada por qualquer ato fiscalizador.
Como existe um visível pacto de deixar tudo como está, então aquela cena de um condutor dirigindo bêbado na contramão na RR-205, colidindo frontalmente com outro carro, deve ficar por isso mesmo. E assim a sociedade vai mantendo essa guerrilha gratuita no trânsito roraimense, em que a pessoa sai de casa dirigindo e não sabe se voltará vivo para o seu lar no fim do passeio ou no trajeto de casa para o trabalho.
*Colunista