A disseminação da mentira para confundir e manipular a opinião pública é um dos grandes males que afeta o país nos últimos anos, muitas vezes desviando o foco de discussões sérias. Uma postagem mentirosa na rede social X (antigo Twitter) viralizou ao alegar falsamente que a Polícia Federal teria prendido mil faccionados com carga de urânio em Roraima, que seria enviada para a Venezuela, cujo destino final seriam Rússia e Irã.
São propagandas ideológicas que desviam a atenção para o principal problema que o país enfrenta a partir da Venezuela, que é a entrada de uma violenta facção venezuelana já declarada como grupo terrorista nos Estados Unidos. A gravidade dessa situação pôde ser confirmada em 2020, quando foi desativada a Base Operacional de Pacaraima, que era utilizada para fiscalização e combate ao crime na fronteira entre Brasil e Venezuela. O motivo alegado foram cortes orçamentários e realocação de recursos,
Essa é a guerra que o Estado de Roraima trava e que deveria ter chamado a atenção do governo brasileiro e das autoridades roraimenses, que não estão muito interessados no assunto. As polícias locais sozinhas não vão conseguir fazer frente a esta nova realidade, pois faltam recursos suficientes e uma atuação conjunta com forças federais, bem como uma cooperação internacional, especialmente dificultada por problemas diplomáticas com a Venezuela.
Enquanto o problema avança, as mentiras apenas desviam o foco do tema. E não se trata de algo isolado. Desde o recrudescimento da guerra Irã-Israel começou a circular fake news de que o Brasil teria fornecido urânio para o Irã. A alegação para isso foi o episódio ocorrido em 2023, quando dois navios da Marinha iraniana atracaram no Rio de Janeiro, gerando uma enxurrada de mentiras. O governo brasileiro mantém não só relações diplomáticas como também comerciais com o Irã, especialmente em exportações agrícolas.
Importante destacar que a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) monitora o programa nuclear iraniano e, com certeza, relataria importações de urânio do Brasil ou de qualquer outro país. Além disso, o Brasil é signatário do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), o que torna improvável a exportação clandestina de urânio sem ser detectado. Mas as mentiras nas redes sociais pregam que o Brasil teria alimentado o programa nuclear iraniano e que o país sofreria sanções, inclusive há quem propague o apocalipse de que o Brasil seria atacado pelos Estados Unidos.
Enquanto as mentiras prevalecem, alienando uma massa incauta, os esforços na região fronteiriça estão mais voltados para a crise migratória do que para o combate aos crimes exportados pelas facções venezuelanas. A desativação da Base Operacional de Pacaraima em 2020 foi ápice dessa falta de prioridade ao avanço do crime organizado, pois reduziu a capacidade de fiscalização em uma área estratégica para enfrentar o narcotráfico e outros crimes transnacionais.
*Colunista