Jessé Souza

JESSE SOUZA 11890

Inverno rigoroso e os antigos problemas que castigam os municípios do interior

Jessé Souza*

As fortes chuvas que caem por todo o Estado estão castigando especialmente os moradores de regiões interioranas que sempre foram abandonados ou esquecidos devido à falta de uma política de infraestrutura (de verdade) jamais implementada pelos seguidos governos desde a instituição do Estado.

Historicamente, obras de pontes e estradas só costumam ser executadas quando ocorre o pior, a exemplo de uma ponte que desaba ou um bueiro rompido após anos sem manutenção. Ou geralmente por interesses partidários ou de grupos, quando algum político, empresário ou fazendeiro tem propriedade em determinada região. Ou por outros interesses particulares ou monetários inconfessáveis.

Quem pensa que pontes, bueiros, estradas e vicinais ficam em condições lastimáveis apenas em regiões desconhecidas dos políticos, o Amajari é um bom exemplo da realidade, pois aquele município é habitado por famílias de grandes proprietários que também são políticos tradicionais, inclusive com mandato. De lá já saíram inclusive um governador e uma governadora, além de deputados estaduais e federais.

Mas nem por isso aquele município goza de infraestrutura adequada não apenas para moradores, produtores e visitantes, mas também para turistas de outros estados, uma vez que lá abriga o principal ponto turístico de Roraima, a Serra do Tepequém, cuja estrada está recebendo sua primeira manutenção só agora após seis anos de abandono completo pelos governantes.

A grande vergonha em forma de desamparo governamental pode ser vista, neste momento, na estrada para a Vila Bom Jesus, a qual passou recentemente por uma manutenção feita pela Prefeitura, mas que de nada adiantou, pois a situação só fez piorar, com isolamento temporário até a lama secar e a suspensão de transporte intermunicipal por falta de trafegabilidade. Moradores e produtores da região enfrentam transtornos e prejuízos a cada chuva.

Se a situação é crítica numa região dominada por famílias de políticos, é possível imaginar o cenário em regiões onde apenas os desbravadores anônimos batalham para sobreviver e plantar alimentos para abastecer a mesa da população. No Sul do Estado a situação se repete, de onde também saem alguns coronéis da política que mandam e desmandam, sofrem famílias de produtores e colonos que são lembrados apenas na hora do voto.

O atual governo alardeia que tem um plano em andamento para investir na recuperação da malha viária em todo o Estado. De fato, algumas obras têm surgido, inclusive no Amajari. Mas ainda é muito pouco para um Estado acostumado a largar seu povo no buraco, poeira e lama. E muito pouco para um governo que se elegeu pregando muitas expectativa, mas que começou beneficiando somente os grandes.

Esse período de inverno, quando as obras inevitavelmente precisam ser paralisadas, deveria servir para que todas as necessidades de infraestrutura nos municípios sejam mapeadas a fim de que se aponte a real situação em que se encontram as estradas e vicinais, além das rodovias, cujos trechos críticos são percebidos apenas em épocas de cheias.

Como estamos diante de um inverno rigoroso, que apenas começou, então o governo terá um momento propício para conhecer o real sofrimento de quem depende das estradas e vicinais. Quem sabe seja o primeiro a ter um estudo que realmente faça a diferença já no inverno do ano seguinte. E as prefeituras não podem se esquivar das responsabilidades, pois elas deveriam ter esse estudo em mãos há muito tempo.

Afinal, as prefeituras são responsáveis também pelo que está ocorrendo, principalmente pela omissão. São os prefeitos e prefeitas que devem conhecer melhor a realidade de seus municípios e são eles que recebem em primeira mão as cobranças dos munícipes.

Porém, muitos doa prefeitos limitam-se a ser useiros e vezeiros dos coronéis de suas regiões, como se a eles o dever fosse apenas de serem instrumentos dos donos de emendas parlamentares e de projetos políticos ditados a partir da Capital; ou limitam-se a empurrar os problemas com a barriga enquanto ficam em campanha eleitoral permanente.

Isso precisa mudar. Para o bem da população.

*Colunista