Execução de motorista venezuelano ocorreu no bairro Senador Hélio Campos, na tarde de ontem (Imagem: Reprodução)

Enquanto todas as atenções estão voltadas para as cenas de guerra urbana no Rio de Janeiro, durante uma mega operação policial contra as ações do crime organizado que deixou 64 mortos desde as primeiras horas de ontem, em Roraima repete-se o cenário da ação violenta da disputa por território por facções venezuelanas, que estão consorciadas com faccionados brasileiros. Mais um venezuelano foi executado em via pública, em Boa Vista.

Desta vez, um homem que dirigia um carro que foi executado com um tiro na cabeça, na tarde de ontem, no bairro Senador Hélio Campos, zona Oeste da Capital. Essa guerra, nos últimos anos, já deve ter contabilizado número bem próximo ao da quantidade de mortes registradas na cidade carioca, incluindo vítimas do cemitério clandestino, de corpos desovados nas cercanias da cidade e dos que forma mortos no meio da rua.

As peculiaridades do Rio de Janeiro são conhecidas da realidade brasileira, historicamente dominada pelo crime organizado, especialmente pelo Comando Vermelho (CV), facção esta presente em Roraima e que perdeu território para a facção paulista, o Primeiro Comando da Capital (PCC), que se enraizou em Roraima e chegou até o garimpo ilegal, interesse comum de facções venezuelanas.

Em Roraima, essa guerra é considerada um “problema dos venezuelanos”, em que faccionados se matam em disputa territorial pelo tráfico de drogas ou executam suas vítimas em acerto de conta. No entanto, não é bem assim. Além da ação de facionados venezuelanos matarem inocentes e dominarem os bairros periféricos mais populosos, esses bandidos fazem o trabalho sujo na disputa pelo tráfico, enquanto os cabeças do verdadeiro crime organizado estão encrustados na política, na polícia e nos setores importantes da economia local.

As execuções em via pública acabam servindo para encobrir os crimes não menos graves que incluem ouro passeando nas rodovias federais, contrabandos de armas da Venezuela, apoio logístico para o garimpo ilegal ou lavagem de dinheiro com envolvimento de filhos de políticos, além do patrocínio do narcotráfico ou do tráfico de armas a políticos e policiais militares, conforme as investigações da Polícia Federal.

Essa realidade é que os políticos não querem que chegue à opinião pública, enquanto a mídia tradicional e perfis policialescos nas redes sociais distraem seu público com o anúncio de seguidas mortes por execução em locais públicos movimentados, revelando a audácia dos faccionados e a sinalização de que não temem as autoridades locais, especialmente porque sabem que nada está sendo feito além das operações policiais pontuais e esporádicas.

Ao tempo em que a desastrada ação policial carioca, que custou a vida de quatro policiais, servirá para alimentar as narrativas da direita e da esquerda, a ação de faccionados venezuelanos em Roraima encobre as verdadeiras ações do crime organizado que se apoderou do Estado. Enquanto isso, no Congresso, a PEC da Segurança Pública dorme nas gavetas e os parlamentares agem somente em interesse próprio, tratando de anistia a golpistas, blindagem para cometimento de crimes e retirada de direitos trabalhistas e das minorias.   

*Colunista

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