Depois de um inverno rigoroso em todo o Estado, as chuvas começaram a dar trégua nesses primeiros dias de agosto, mês que marca a transição do período chuvoso para o período seco. Significa que as autoridades já deveriam ter ligado o sinal de alerta para o início das queimadas, que representam sérias riscos não só para o meio ambiente, como também para a sociedade e à economia de diversas regiões produtoras.
Devido à influência do La Ninã, no fim do ano passado e início desse ano a estiagem não foi forte, com registro de chuvas acima da média no período, ajudando a controlar naturalmente o avanço do fogo. No entanto, há regiões que ainda se recuperam do grande incêndio que ocorreu no período do fim de 2023 e início de 2024, a exemplo do Município do Amajari, ao Norte do Estado, que faz parte do chamado do “arco do fogo”.
Um dos locais onde é visível o desiquilíbrio ambiental provocado pelo último grande incêndio é a Serra do Tepequém, ponto turístico localizado no Amajari, que naturalmente tem um ecossistema frágil por sua formação geológica, amplificado pelas agressões de cinco décadas provocadas pelo garimpo de diamante, cuja exploração ficou proibida no fim da década de 1990.
O Platô de Tepequém, que é um dos atrativos mais requisitados por turistas e aventureiros, foi uma das áreas severamente degradada pelo fogo. Por ser um Tepuy e abrigar várias espécies da flora endêmicas, o local até hoje tenta se recuperar do grande incêndio, uma vez que o fogo destrói a camada orgânica do solo, reduzindo sua fertilidade e aumentando a erosão, o que o dificulta a regeneração natural da vegetação.
As orquídeas, um dos símbolos de Tepequém, estão desaparecendo, com destaque para uma orquídea branca, a Sobralia granitica, que é uma espécie encontrada na Colômbia, Venezuela e Brasil, sempre crescendo em altitudes de até 700 metros. Antes do fogo destruir uma grande área do Platô, era possível ver verdadeiros orquidários naturais ao ar livre desse espécie. Mas, neste ano, o número dessa orquídea reduziu bastante, sendo possível ver porquíssimos exemplares durante a trilha.
Se um trabalho não for feito o mais rápido possível, não somente em relação às queimadas, como também ao criminoso ato de levar mudas de plantas para casa, poderá haver extinção de várias espécies de orquídeas – com destaque para a Sobralia granítica, atingida severamente pelo fogo que queimou boa parte da margem direita do Platô até a uma área bem próxima da Estância Ecológica do Sesc, que era a região onde se concentrava grande parte dessa espécie.
Esse é somente um exemplo do que as queimadas podem provocar, destruindo habitats, extinguindo espécies e desequilibrando ecossistemas. E o principal ponto turístico de Roraima sente os impactos sob o silêncio de todos, especialmente dos setores que atuam no turismo, que sequer ligam para o que está ocorrendo. Não só eles, mas as autoridades de uma forma geral parecem nem lembrar que o Estado passou por outros incêndios históricos que provocaram danos incalculáveis e irreparáveis.
É como se todos não tivessem aprendido nada com o grande incêndio que ocorreu entre o final de 1997 e o início de 1998, que atingiu um terço do Estado de Roraima, provocando inclusive dificuldade para aterrissagem e decolagem de voos. Até 30 de março de 1998, o fogo provocou prejuízos econômicos para o Estado e para a população, com destruição completa de áreas de produção agrícola e pasto da pecuária, desde o grande produtor a colonos e assentados pobres.
Então, estão esperando o quê? As orquídeas de Tepequém são um grave alerta.
*Colunista