É necessário que continue ecoando, na opinião pública, as ações dos policiais militares do Batalhão de Operações Especiais (Bope) que, em confronto com bandidos estrangeiros, eliminaram dois venezuelanos foragidos do sistema prisional, na semana passada, no bairro Cidade Satélite, uma região que vem sendo dominada por facionados a partir do Residencial Vila Jardim. O destaque não é especificamente as mortes em confronto policial, e sim o momento que o Estado enfrenta.
Para contextualizar o fato, a ocorrência começou com abordagem a um venezuelano que estava em uma moto roubada esperando para abastecer em um posto de combustível, o qual apontou a localização dos demais responsáveis pelo roubo, os quais eram foragidos que faziam parte de uma facção venezuelana, que por sua vez receberam os policiais a tiros e acabaram sendo neutralizados em um terreno baldio, nas proximidades de um supermercado recém-inaugurado.
Um importante parêntese: torna-se necessário esclarecer que não se trata de uma predisposição em identificar os criminosos pela sua nacionalidade, como se fosse xenofobia ou algo nesse sentido. Absolutamente, não!
O foco é chamar a atenção para a atuação cada vez mais audaciosa de membros de uma facção oriunda da Venezuela que tem atuado fortemente na Capital, ampliando suas ramificações no tráfico de drogas e de armas, atraindo jovens migrantes compatriotas e brasileiros para o tráfico e agindo com extrema violência, desovando corpos retalhados como aviso de seu poderio.
A população não tem se alarmado com as mortes violentas por achar que está “tudo bem” enquanto acusados e vítimas são migrantes, como se isso não tivesse nada a ver com os brasileiros. No entanto, a ação da facção venezuelana no tráfico de drogas está conectada com assaltos, roubos e furtos de motos, além de graves problemas sociais, como dependência química, que é um desagregador familiar, ampliando a violência doméstica e porta de entrada para o mundo do crime.
Os reflexos atingem em cheio também a questão migratória, pois muitos venezuelanos chegam a Roraima em grave situação de vulnerabilidade, com jovens e adolescentes migrantes recrutados para o tráfico de drogas nos bairros, bem como facilita o recrutamento de mulheres para a prostituição, com o tráfico humano para o garimpo, e homens e mulheres desempregados e desesperados sendo forçados para trabalhar para as facções.
Outra grande questão que precisa ser pontuada é que a ação de faccionados venezuelanos não pode ser tratada como se fosse um problema localizado e específico de Roraima, mas do país, e que precisa da atuação urgente das autoridades federais para que seja freado o crescimento das facções venezuelanas, que podem se expandir para o restante do país, se conectando com o crime em Manaus (AM) e Belém (PA), capitais já conflagradas pela bandidagem.
A chegada da maior facção venezuelana, El Tren de Aragua, declarada um grupo terrorista nos Estados Unidos, já deveria ter ligado o alerta máximo das autoridades federais, uma vez que esse grupo criminoso pode ter conexões muitos perigosas, pois há relatos na imprensa internacional de que a Venezuela serve como base para o Hezbollah, grupo terrorista apoiado pelo Irã, que opera redes de financiamento ilícito, como tráfico de drogas e lavagem de dinheiro em regiões de fronteira.
As atividades do Hezbollah na Venezuela, conforme analistas internacionais, seriam baseadas em operações de redes de tráfico de drogas e lavagem de dinheiro, inclusive por meio de garimpos ilegais de ouro. Embora não haja provas cabais da ligação do Hezbollah com a facção venezuelana, pode haver compartilhamento de rotas de tráfico de drogas e lavagem de dinheiro, o que significa um fortalecimento do poderio do crime organizado em Roraima.
Embora ainda não seja provável uma escalada para uma guerra mundial devido ao ataque dos EUA ao Irã, o que colocaria a nossa vizinha Venezuela como uma base de apoio iraniana, é importante destacar que a nossa guerra, em Roraima, é contra esse crime organizado transfronteiriço a partir da Venezuela. E o Brasil precisa estar preocupado com isso. Bandidos venezuelanos mortos no Cidade Satélite não são um caso isolado. Estamos em guerra há um certo tempo.
*Colunista