JESSÉ SOUZA

Do ouro à cassiterita, seguidas operações da PF revelam um poder paralelo

Operações policiais mostram o poder do garimpo ilegal de ouro e cassiterita (Foto: PF/Divulgação)

Nenhuma surpresa a operação da Polícia Federal (PF), na manhã desta segunda-feira, que investiga a participação de servidores da Fundação Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Femarh) em um esquema milionário para legalizar a extração ilegal de cassiterita, minério extraído ilegalmente da Terra Indígena Yanomami. Como a memória do povo é curta, é necessário refrescar fatos recentes.

Quase quatro anos atrás, mais precisamente em 7 de outubro de 2021, a PF deflagrou a Operação Urihi Wapopë, que já citava o nome da Femarh, que encontrou tanques de combustíveis em uma área de proteção ambiental na propriedade de uma empresa investigada por suspeita de fazer parte de uma organização que dava apoio logístico à exploração do garimpo ilegal na Terra Yanomami. Mesmo os tanques em flagrante irregularidade ambiental, foram instalados com autorização emitida pela Femarh, apontando um possível esquema.

Os anos se passaram – já que o caso parece ter sido esquecido – e. desta vez, a PF afirma ter identificado um esquema de facilitação na emissão de licenças ambientais que está sendo investigado pela Operação Ouro Negro, deflagrada também no Amazonas, em São Paulo e no Rio de Janeiro, com a Justiça determinado o bloqueio de R$ 265 milhões dos investigados, entre eles servidores da Femarh, e a suspensão de atividades econômicas de empresas envolvidas.

Assim como o ouro do garimpo ilegal atraiu o crime organizado e cooptou policiais militares de alta patente e até parlamentares na formação de milicias e venda ilegal de armas, a cassiterita (chamada de ouro negro) também seguiu o mesmo roteiro. Não pode ser esquecido que, em maio deste ano, a PF deflagrou uma operação que apontou que policiais do Amazonas e de Roraima teriam organizado um grupo criminoso com diversas atividades ilegais.

Conforme a PF, o grupo fazia escolta de cargas de minérios extraídos ilegalmente da Terra Yanomami, especialmente cassiterita, prestava serviços de segurança de forma clandestina e realizava investigações paralelas sobre roubos de carga. Em uma dessas investigações de roubo de carga de cassiterita ilegal, os policiais dos dois estados teriam sequestrado e torturado um homem, que era o suspeito do roubo, para que ele indicasse onde foi parar o minério que deveria ser protegido por eles.

Está tudo aí, às claras, com o crime organizado a partir do garimpo ilegal de ouro e cassiterita já infiltrado nas polícias, no parlamento e no órgão estadual ambiental. Inclusive com familiares de políticos investigados ou presos por lavagem de dinheiro do garimpo ilegal e participação no narcogarimpo. E o mesmo cenário está começando a se repetir na Terra Indígena Raposa Serra do Sol. Se as instituições não forem desratizadas o quanto antes, teremos um Estado tomado pelo crime organizado definitivamente.

*Colunista

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