Cena comum nas estradas nos municípios do interior que desafia as autoridades (Foto: Divulgação)

Uma notícia importante para uma reflexão nesse fim de ano foi a decisão da Prefeitura de São Luiz do Anauá, no Sul do Estado, de cancelar a festa de réveillon após morte de jovens e adolescentes daquela cidade. Escondido entre o luto das mortes registradas por lá estão as causas das três das quatro mortes que motivaram a comoção pública: acidentes de trânsito envolvendo motocicletas.

O luto daquela população traz o significado oculto da grave situação de trânsito não só naquele município roraimense, mas em todos os demais. Em São Luiz do Anauá, uma das mortes registradas foi a de um garoto de 11 anos de idade, que conduzia uma moto e colidiu em outra pilotada por um adolescente de 16 anos. Ou seja, criança e adolescente conduzindo moto como se fosse uma cena normalizada.

Embora essa tragédia tenha ocorrida no Sul do Estado, cenas semelhantes se repetem em todos os municípios do interior do Estado, onde inexiste o mínimo de controle no trânsito, em uma espécie de “liberou geral” em que crianças, adolescentes, jovens e adultos (muitas vezes não habilitados) pilotam motos sem capacete, sem documentação e sem obedecer às mínimas regras impostas pela legislação.

Com a permissividade por parte das autoridades, essa esculhambação geral acaba se ampliando para as rodovias estaduais e até federais que interligam regiões e cidades roraimenses, corroborando para outros acidentes com mortes. Sem fiscalização e atuação das autoridades de trânsito, representadas pelos Ciretrans (Circunscrições Regionais de Trânsito), os quais são órgãos vinculados ao Departamento Regional de Trânsito (Detran), os transgressores sentem-se à vontade.

Quem sai de Boa Vista para outras cidades no interior do Estado logo percebe o cenário de permissividade, especialmente no que diz respeito a motos, com gente sem capacete, veículo sem placa, além de crianças e adolescentes conduzindo na maior naturalidade, inclusive com tudo isso sendo tolerado pelas autoridades. A isso somam-se a imprudência e a irresponsabilidade de boa parte dos condutores sob a vista grossa do Ciretran.

Se esse flagrante problema não for atacado, seguiremos como um Estado marcado por seguidas tragédias no trânsito, conforme vem sendo registrado nesses últimos dias de 2025. A população de São Luiz do Anauá é apenas um exemplo. Com tanto dinheiro arrecadado pelos órgãos de trânsito, é inadmissível que não se tenha o mínimo de controle no trânsito ao menos nas sedes dos municípios, onde o Ciretran mais parece um órgão figurativo, com seus titulares se valendo do cargo sem dar o retorno para a sociedade.

Nesse novo ano que se aproxima, a questão do trânsito precisa ser uma das prioridades por parte das autoridades do trânsito e de nossos parlamentares, para que possam cobrar que os municípios também assumam suas responsabilidades em conjunto com os Ciretrans, que precisam sair desse papel figurativo para a ação educativa e repressiva. Ou esse “liberou geral” serve politicamente para não desagradar eleitorado?

*Colunista

[email protected]