
Embora a opinião pública tenha se mostrado surpresa com as seguidas apreensões de barras ouro circulando pelas rodovias federais roraimenses, fazendo com que muitos indaguem sobre o que está ocorrendo, o fato é que não há nenhuma grande novidade. Grande mesmo é a quantidade apreendida pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) e o volume das cifras, registrando cinco grandes apreensões só este ano, chegando a mais de 200 quilos de ouros em 2025, o que representa cerca de R$ 140 milhões!
O que está ocorrendo mesmo de diferente é a mudança de postura das autoridades federais, especialmente na atuação da PRF, que integra o Plano Amazônia: Segurança e Soberania (Plano AMAS), iniciativa do Governo Federal lançada em 2023 para intensificar o combate ao crime organizado na Amazônia Legal. Com as duas mais recentes apreensões nesta semana, a PRF se consolida como a força policial que mais apreendeu ouro no Brasil.
No entanto, as apreensões já vinham ocorrendo desde que as portas do garimpo ilegal foram abertas nas terras indígenas, principalmente na Terra Yanomami. E o detalhe muito importante é que algumas ações da Polícia Federal (PF) encontraram conexões diretas com parentes e familiares de altas autoridades de Roraima. E aqui está a grande questão que poucos fazem questão de prestar atenção, embora a maioria desses casos seja abafada.
Os casos vêm de longe. Apenas para relembrar os mais recentes, é importante destacar que, em maio de 2024, a Polícia Federal (PF) apreendeu R$2,3 milhões em barros de ouro em posse do tio de um secretário do Estado de Roraima. O episódio caiu de arrasta para o abafamento, mas foi lembrada pela coluna Parabólica, na FolhaBV, na edição do dia 3 de junho de 2024, afirmando que a apreensão foi baseada numa delação premiada. Não se ouviu mais falar nesse episódio.
No entanto, um ano antes, ocorreu o rumoroso caso da irmã do governador, Vanda Garcia de Almeida, que foi alvo de uma operação da PF, no dia 10 de fevereiro de 2023, investigada por suspeita de integrar uma quadrilha acusada de lavar dinheiro proveniente do ouro extraído do garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami. Mas também houve casos de filhos de um casal de ex-governadores também presos por envolvimento com garimpo ilegal.
No mesmo ano de 2023, no mês de abril, um dos filhos dos ex-governadores Neudo e Suely Campos foi preso sob suspeita de envolvimento com o garimpo ilegal. Guilherme Campos foi flagrado sobrevoando a Terra Yanomami, cujo espaço aéreo estava sendo monitorado pela Força Aérea Brasileira. Á época, ele se safou alegando que estava indo para a fazenda da família vacinar o gado. Só que, lá atrás, em dezembro de 2018, ele foi preso durante operação da PF contra desvio de recursos públicos no sistema prisional de Roraima, junto com outras 11 pessoas, esquema que movimentou R$ 70 milhões em três anos do governo de sua mãe.
Mais recentemente, no dia 25 de julho deste ano, outro filho do casal foi preso. Desta vez, Eduardo Campos foi flagrado pela PF com cinco garimpeiros suspeitos de envolvimento com o garimpo ilegal, após o avião em que estavam ter sido interceptado e pousar na pista clandestina de uma fazenda no Município do Cantá. Foram apreendidos ouro, veículos, celulares e outros equipamentos eletrônicos. Eduardo é político. Em 2014, foi candidato a deputado federal terceiro mais votado, com 16.942 votos, e só não se elegeu por falta de coeficiente eleitoral.
Como é possível notar, as apreensões de barras de ouro fazem parte de um esquema antigo, que agora tenta se reinventar com o arrocho ao garimpo ilegal pelo atual governo, com o fechamento do espaço aéreo. Com a atuação mais eficiente da PRF, não tardou para as grandes apreensões ocorrerem. Não pode ser esquecido que um político que foi candidato, mas não conseguiu se eleger a deputado federal ostentando muita grana, se mudou para a Guiana após o fechamento do garimpo e diante do cerco fechado pela PF. Ela agora quer ser senador.
Não é à toa que o ouro passeia pelas rodovias roraimenses. Zero surpresa.
*Colunista