JESSÉ SOUZA

As conexões do crime que ligam Roraima ao Peru, Venezuela e Guiana

Prisão de piloto de helicóptero com 264kg de droga vinda do Peru motivou operação em Roraima (Foto: Divulgação)

Enquanto muitos desviam seus olhares e mentes para o fanatismo político-religioso, que empunha bandeiras dos Estados Unidos, de Israel e do Brasil, os acontecimentos em Roraima exibem as audaciosas ações do crime organizado com conexões com outros estados envolvendo tráfico de droga e transporte ilegal de cassiterita e ouro. Se as apreensões milionárias são reveladas pela polícia, então é possível imaginar o que ocorre longe das fiscalizações e operações policiais.

Na segunda-feira, 04, não ocorreu somente a apreensão histórica de 103 Kg em barras de ouro que valem R$61 milhões, em posse de um casal que estava com o seu bebê de 9 nove meses, o qual esbanja vida luxuosa exibida nas redes sociais em Rondônia. Conforme foi amplamente divulgado, a apreensão milionária ocorreu durante abordagem da Polícia Rodoviária Federal (PRF) na BR-401, na Ponte dos Macuxi.

A apreensão desse carregamento de ouro, que provavelmente veio de Rondônia, acabou ofuscando uma operação policial que ocorreu no mesmo dia em Boa Vista e Manaus (AM), a qual apreendeu 170Kg de cocaína com venezuelanos, os quais foram presos por tráfico internacional. A operação foi determinada pela Justiça Federal do Amazonas, resultado das investigações iniciadas com a prisão de um piloto de helicóptero, em março deste ano, no município de Careiro (AM), com 264Kg de droga e fuzil.

Os envolvidos fazem parte de uma rede de tráfico internacional que traficava a droga do Peru e distribuía em Manaus e Boa Vista, cuja atuação envolve organizações criminosas transnacionais e facções brasileiras que atuam na Amazônia, conforme investigações da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado no Amazonas (FICCO-AM). E isso dá a indicação da conexão que Roraima faz parte não apenas como corredor, mas também de consumo de droga.

Três dias antes dessas duas importantes ações policiais, na sexta-feira, dia 1º, a PRF apreendeu 450Kg de cassiterita, chamada de “ouro negro”, além de arma de fogo, durante fiscalização na BR-174 em Boa Vista. Esse caso apenas soma-se ao contexto geral da atuação das organizações criminosas  em Roraima, que entre suas atuações estão a cooptação de policiais militares, políticos e empresários, contribuindo para a criminalidade que se estabeleceu na Capital e municípios do interior.  

Somente nessas três ações policiais é possível perceber as conexões de Roraima com Amazonas, Rondônia, Peru e Venezuela. Sem contar que o carregamento de ouro ilegal provavelmente seria enviado para a vizinha República Cooperativista da Guiana. No auge do garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami, quando o narcogarimpo ganhou corpo, as ligações do crime iam bem mais longe.

Inclusive, em 2022, ocorreu um emblemático caso em São Paulo, quando um carregamento de 77kg de ouro estava sendo transportado por quatro policiais militares, inclusive dois deles vinculados à Casa Militar do governo paulista. Não pode ser esquecido que havia até pastores evangélicos negociando liberação de verbas do Ministério da Educação em troca de barras de ouro, nos gabinetes em Brasília.

Enquanto isso, em Boa Vista, o narcogarimpo é responsável pelo avanço da criminalidade e a intensificação do tráfico de drogas. O consumo de droga é responsável por adolescentes e jovens entrando para o mundo do crime, aumento da violência doméstica devido à desagregação familiar, o que pode explicar um dos motivos pelo qual Roraima é campeão da violência contra crianças e mulheres. Enquanto isso, policiais são denunciados por crimes, principalmente ligados ao garimpo ilegal. Esses são alguns dos reflexos da atuação do crime organizado.

*Colunista

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