FALANDO E ESCREVENDO BEM, VOCÊ PODE IR ALÉM
Cleyton Bonfim*
“A língua… é uma ponte que te permite atravessar com segurança de um lugar para outro.” (Arnold Wesker – Dramaturgo inglês)
A frase de Wesker, reproduzida acima, descreve poética e precisamente a dádiva de se conhecer bem a própria língua.
Muito antes da ideia de globalização, bem antes da Idade Média, ainda na Antiguidade Clássica, falar e escrever bem já eram fatores fundamentais para:
1. Aprender de modo eficaz;
2. Compreender bem o mundo e seus fenômenos;
3. Desenvolver-se em sociedade.
Isócrates, conhecido filósofo e educador grego, possuía uma visão de ensino na qual a palavra era a chave mestra, o elemento central da sua prática educacional. Segundo ele, o bom desempenho de um indivíduo, por exemplo, na retórica (ciência/arte de discursar/dizer bem) ultrapassava os limites da habilidade natural, dependia também de dedicação e de esforço. Sim, senhor, são os 99% de transpiração propostos por Thomas Edison. O Trivium, uma prática didática composta pelo ensino da Gramática (ciência/arte de falar/escrever corretamente), da Retórica (ciência/arte de discursar/dizer bem) e da Lógica (ciência/arte de pensar bem/conceber/ julgar/ raciocinar), além de estar diretamente ligada ao desenvolvimento das potencialidades do intelecto, atuava no bem-estar/equilíbrio do corpo e da alma, e todo esse processo era, com todas as “certezinhas” do universo, um caminho excelente para se alcançar autonomia pessoal, social e profissional. Contudo, na realidade educacional brasileira, que está, certamente, melhor estruturada em muitos aspectos, que o quadro educativo da Antiguidade, pouco ou quase nenhum interesse há em se formar bom leitor e bom escritor. Aplicar-se ao estudo da língua/ linguagem, para falar e escrever bem, parece ser o equivalente a carregar um “peso morto” e as queixas de professores e estudantes sobre os fracassos no ensino-aprendizagem de língua portuguesa não são poucas. Há quem diga ser “coisa de gente velha”, que não sabe “falar na linguagem da galera” ou racionalizam que é trabalho só para “gente metida”, que quer chamar atenção falando tudo “certinho”. Fora isso, ainda vai aparecer quem afirme ser um tremendo exagero falar dessa realidade displicente com o aprendizado da língua portuguesa, será mesmo? Pois bem, seguem alguns dados para autoconfrontação:
Em 2014 > Mais de meio milhão de pessoas (precisamente 529 mil candidatos) zeraram a redação do Enem e apenas 250 pessoas alcançaram a nota mil.
Em 2015 > Mais de 53 mil candidatos zeraram a nota da redação do Enem. Só 104 estudantes tiraram nota mil. Detalhe, foram separados os que deixaram a produção de texto em branco dos que realmente escreveram e zeraram por ineficiência textual.
Em 2016 > apenas 77 alunos tiraram a nota máxima na redação do Enem. Foram 291.806 textos anulados ou nota zero; dentre esses, mais de 46 mil casos foram por fuga ao tema. (erro primário e clássico)
Em 2017 > mais de 309 mil participantes tiraram zero na redação do Enem e somente 53 pessoas conseguiram a nota mil.
Em 2018 > Dos 4,1 milhões de candidatos que realizaram a prova, apenas 55 participantes obtiveram a nota máxima e cerca de 112 mil zeraram a redação no Enem.
Em 2018 > O PISA da OECD – Programme for International Student Assessment, que mede o desempenho de estudantes secundaristas, em sua última edição, revelou o baixíssimo nível de leitura dos jovens brasileiros, 50% dos alunos avaliados não obtiveram proficiência na própria língua, e isso é não esperado para os jovens que estão na série final do ensino médio. Conforme o INEP, um resultado como esse é um grande obstáculo, dificulta e, pior, impede os estudantes de avançarem nos estudos, de terem melhores oportunidades de trabalho e de participarem efetivamente da sociedade em que estão inseridos.
É inegável, portanto, antes e agora, que o bom uso da língua/ linguagem, de modo bem específico, é um pré-requisito indispensável à vida e às suas variadas áreas, que um bom desempenho pessoal e profissional depende de uma atitude mais consciente sobre o uso da própria língua, pois falar e escrever bem o próprio idioma produzirão as habilidades essenciais para que você prospere num mundo, onde a busca e a dependência de conhecimento são constantes.
Para aprimorar conhecimentos sobre a língua é fundamental refletir sobre a língua, então, como está sua prática reflexiva sobre a nossa gloriosa língua portuguesa?
*Professor de Língua Portugues – Email: [email protected]
O QUE ESTÁ POR TRÁS DO RECOHECIMENTO DE PARTENIDADE
Catia Sturari*
O reconhecimento da paternidade é um direito de toda a criança, afinal todos merecem ter um nome e um sobrenome. Além disso, a figura paterna é muito importante para o desenvolvimento infantil. No entanto, a realidade não é muito bem essa, ou seja, quando a mãe entra com uma ação de reconhecimento de paternidade, muitas vezes o suposto pai não quer aceitar. Também existem casos em que o pai entra com ação de negativa de paternidade por achar que foi enganado e que o filho que ele cria não é dele.
Por certo, o possível pai tem o direito de ter essa dúvida. Mas como funciona o processo de reconhecimento? No Brasil, há alguns princípios que norteiam essa ação. O principal deles é o princípio da presunção da veracidade. Ou seja, vamos supor que uma mulher fica grávida após um relacionamento esporádico. Ela entra na justiça para o reconhecimento de paternidade do suposto pai. No entanto, geralmente a reação do homem é negar ou ficar na dúvida. Ele é citado para se defender dessa ação e, consequentemente, para fazer o exame de DNA.
Como o teste de DNA não é obrigatório, caso o pai se negue a fazê-lo, o juiz baseia-se apenas nas provas que a mãe apresenta no processo. Dessa forma, dentro da presunção da veracidade, o juiz pode julgar, dependendo dos atos do processo, que o homem citado é o pai. Inclusive, o fato de o pai negar o teste já é um elemento para o juiz presumir que ele é o pai.
É importante destacar que a ação de reconhecimento pode ser acionada desde a gravidez. Dessa forma, a partir do momento em que é citado para se defender, o suposto pai pode passar a colaborar com alimentos gravídicos para custear as despesas da gestação, desde a concepção ao parto.
Caso o homem faça o teste de DNA e o resultado seja positivo para paternidade, ele passa a ter responsabilidades e também direitos sobre a criança, com o objetivo de participar da vida dela e gerar vínculo. O teste é realizado num laboratório público, como o Instituto de Medicina Social e de Criminologia de São Paulo (Imesc) para fazer a constatação ou não pelo juiz, sem que haja fraude.
Laboratórios particulares não fazem teste de reconhecimento de paternidade, pois precisa do aval da mãe e do pai. A ação de reconhecimento é feita apenas pela justiça, exceto se os dois entrarem num acordo e decidirem fazer por conta própria.
Outro detalhe é que há a possibilidade de fazer teste sem gerar obrigações ao pai. Mas, na prática, não é o que acontece, uma vez que a mãe geralmente vai precisar do auxílio do genitor por direito.
Muitas mães não fazem o processo de reconhecimento por falta de dinheiro. O fato dos pais desconhecerem que existem acordos para facilitar o processo, em envolvendo desde honorários advocatícios, até acordo de pensão ou do período que ficou sem pagar quando não sabia que era o pai, entre outras questões. Em audiência pode se fazer um acordo para redução de parcelas ou do valor das obrigações. Essas alternativas dão a possibilidade à criança de ter um sobrenome, um pai e o vín
culo entre eles. Isso não há dinheiro que pague.
Também existem mães que não querem que o filho tenha registro, pelo fato do pai ter desaparecido, por não ter prestado assistência necessária, entre outros motivos. Mas esse não é apenas um direito e dever dos pais, é do filho e, se um dia ele encontrar elementos que o faça mudar de ideia e retirar o nome do pai do seu registro, ele tem esse direito. Portanto, pai ou mãe, pense sempre na criança.
*Advogada especializada em Direito de Família. É condutora do programa Papo de Quinta, no Instagram, voltado às questões que envolve o Direito de Família
TIRANDO DE LETRA
Afonso Rodrigues de Oliveira*
“Os pontos culminantes na vida dos bem-sucedidos geralmente chegam no momento de alguma crise, através da qual são apresentados ao seu outro eu.” (Napoleon Hill)
É nos momentos de dificuldade que mostramos quem realmente somos. E minha maior dificuldade na vida é encarar certas dificuldades, que na verdade não são difíceis. Você nem imagina os vexames que já passei por não reconhecer as pessoas. Já lhe falei que sou um cara beneficiado pela natureza. Tenho, pelo menos, cinco qualidades que toda mulher admira e deseja num homem: Sou pequeno, magro, feio, pobre e chato. Acho que tenho muito mais, nesse conjunto de desacertos.
Já sofri o vexame de ver meu irmão aborrecido, quando éramos adolescentes, e ele percebeu, no cinema, que eu estava usando uma meia preta e outra azul. E eu não tinha percebido. Porque não sabia que eu era daltônico. Ainda passo por esses vexames, com muita frequência. Mas tenho feito muitos exercícios para melhorar. Mas todos inúteis.
Outra grande qualidade que tenho é ser um péssimo fisionomista. Sempre que encontro as pessoas e elas me cumprimentam, eu fico meio tonto. Até mesmo com as mais íntimas. Recentemente eu ia entrando numa farmácia, e uma senhora ia saindo. Ela me cumprimentou com alegria. Mas logo percebeu que eu estava voando. Aí ela foi esperta, e perguntou:
– Está e reconhecendo?
– Mais ou menos.
Ela tirou a máscara e perguntou:
– E agora?
– Mais ou menos.
Ela riu e falou alegre:
– Eu sou a esposa do seu amigo Nerivan. Sabia que ele faleceu?
Você não imagina o vexame que passo nessas horas. Mas ela continuou rindo, porque já me conhecia e sabia de minhas tonteiras. E ela já conhecia aquela historinha maluca do dia na fila do supermercado. E você já conhece o caso.
Eu estava com a Salete numa fila de caixa no supermercado. Era um sábado depois do meio-dia. Virei-me para trás e uma garota lindinha me cumprimentou, alegre. Respondi alegre e quando saímos perguntei pra Salete:
– Quem é aquela garota que me cumprimentou?
– Não tenho a menor ideia.
Só quando chegávamos ao portão de casa, a ficha caiu. Era uma colega do jornal, com quem eu tinha batido um papo, ainda pela manhã. Mas o pior é que a Salete contou depois, o caso pra ela. Depois desse dia, cada vez que eu chegava ao Jornal, ela levantava o braço e falava alegre:
– Oi, Afonso… sou eu!!
Faz três anos que não a vejo, mas vou reconhecê-la. Garanto e prometo. O tempo que passei afastado, morando na Ilha Comprida, nos afastou. De volta, o Corona continua nos afastando. Mas vou cumprimentá-la com o carinho e respeito que ela merece. Nos meus erros não há descaso. Pense nisso.
*Articulista – E-mail: [email protected] – Telefone: 95-99121-1460