
Dezesseis anos depois, tudo indica que foi sepultado o caso do avião monomotor que foi apreendido com 3,5 milhões de dólares na extinta Fazenda Bamerindus, que era localizada na zona rural de Boa Vista. O ano era 2009 e até hoje não se sabe a origem do avião e do dinheiro, quem era o proprietário da aeronave, qual o destino do dinheiro e o nome dos envolvidos. À época, o caso foi blindado pela Justiça com o sigilo da investigação.
A lembrança desse rumoroso caso é a despeito do que ocorreu na terça-feira, dia 2, quando a Polícia Federal foi avisada e apreendeu 51 Kg em barras de ouro que estavam sendo transportados em uma aeronave particular que pousou irregularmente no Aeroporto Internacional de Boa Vista. As 54 barras de ouro apreendidas estão avaliadas em R$ 37 milhões pela cotação atual.
Com mais essa apreensão, o volume de ouro sem comprovação de origem apreendido em Roraima desde o início das ações da Casa de Governo chega a 249 kg, equivalente a cerca de R$ 179 milhões. Até o momento, das apreensões ocorridas, inclusive nas rodovias federais, pouco se sabe sobre a origem do minério nem o nome dos proprietários. E a esperança, desta vez, é que esses casos não fiquem impunes e ocultos da sociedade.
No episódio envolvendo o avião apreendido na terça-feira, sabe-se que a origem do monomotor era Itaituba (PA), região conhecida de garimpo, e que tinha como destino uma fazenda no Município do Cantá, conforme constataram os servidores da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) que faziam fiscalização no aeródromo particular daquela propriedade. Com a presença dos servidores, o avião teve a rota desviada repentinamente para o Aeroporto de Boa Vista, onde foi apreendida.
Entre as pessoas detidas pela PF, além do piloto do monomotor, estavam um sargento da reserva do Exército, provavelmente atuando como segurança, e um empresário paraense de Itaituba, que já foi preso e processado em 2020 em situação semelhante, com barras de ouro e cédulas de euros, caso ocorrido no Município de Oiapoque (AP), mostrando que se trata de uma organização contumaz nessa prática.
Roraima sempre serviu de rota para todos os tipos de ilícitos, entre tráfico de droga e de armas, garimpo ilegal e lavagem de dinheiro, com organizações criminosas que sempre se aproveitaram de uma frágil fiscalização nas rodovias e no espaço aéreo, além do conluio de empresários e políticos locais. As barras de ouro cruzando os céus e rodovias no Estado são exemplos concretos dessa realidade.
O caso do avião apreendido na Fazenda Bamerindus, em 2009, foi apenas um dos exemplos de que o crime sempre compensou, com flagrantes impunidade, proteção e conluio. Os tempos passaram e a forma de operar segue a mesma, só que, desta vez, temos a ação da Casa de Governo, que coordena as operações de dezenas de órgãos federais no enfrentamento ao garimpo ilegal no território Yanomami.
*Colunista