Caminhamos para os últimos meses de 2025 já de olho nos desdobramentos da política local para entender o que vai ocorrer em 2026, ano eleitoral que será muita de ebulição, independente do que ocorrer com o governador Antonio Denarium, cassado quatro vezes e cujo futuro está nas mãos do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que empurra o caso com a barriga por meio de pedidos de vista.
O que tem chamado muita atenção, nos bastidores, é uma inusitada situação chamada de “síndrome dos três J’, em que três ex-prefeitos de municípios do interior, que mostram pretensão de concorrer a deputado federal, estão enrolados com a Justiça após operações policiais que investigam corrupção nas cidades administradas por esses políticos. Embora seja uma coincidência seus nomes começarem com a mesma letra do alfabeto, casos de corrupção tornaram-se endêmicos no Estado.
O caso mais recente é o do ex-prefeito de Bonfim, Joner Chagas, investigado pela Polícia Federal suspeito de controlar um esquema de desvio de dinheiro em contratos de obras públicas naquele município, ao Nordeste de Roraima, em que os contratos chegam a R$50 milhões. A suspeita é de que ele usava uma empresária como “testa de ferro” para esconder a ligação com os recursos oriundos de emendas. A empresária foi presa em flagrante sacando R$500 mil no banco.
Outro caso é do ex-prefeito de Iracema, Jairo Ribeiro, que foi preso em flagrante pela PF em operação relacionada a supostas fraudes em licitações e desvios de emendas no município que fica a Centro-Sul do Estado. Chamada de Voto de Cabresto, a operação investiga crimes eleitorais e envolve a prefeita Marlene Saraiva e outros vereadores reeleitos. Jairo Ribeiro era cabo eleitoral de Marlene nas eleições de 2024;
O caso do terceiro “J” refere-se ao prefeito de São Luiz do Anauá, James Batista, no Sul do Estado, que chegou até a ser absolvido pelo Tribunal Regional Eleitoral de Roraima (TRE-RR) das acusações de abuso de poder econômico nas eleições de 2020 sob acusação de compra de votos. No entanto, entrou no “olho do furacão” de um caso de repercussão nacional depois que São Luiz do Anauá foi apontado com campeão de emendas parlamentares nos últimos anos, ao receber R$ 103 milhões e entrar no radar de investigações do Ministério Público de Contas.
A Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR) também começou a investigar e instaurou uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar a suspeita de desvios dos R$ 3,5 milhões em duas emendas estaduais no segundo mandato de James Batista, que administrou uma das menores cidades roraimenses e uma das mais endividadas, mesmo sendo campeã brasileira de recebimento de emendas parlamentares.
Como é possível notar, emendas parlamentares são a origem desses casos sob investigação, recursos estes que fazem falta para que as cidades do interior garantam os mais básicos direitos dos moradores, como estradas, educação com merenda escolar, transporte e escolas com qualidade, além de saúde com estrutura mínima para impedir que pacientes busquem tratamento na Capital.
Não é só a “síndrome dos três J” que precisam ser observados pela população em anos eleitorais, mas a histórica situação dos descasos com os municípios do interior, em que as pessoas não conseguem ter seus direitos mais elementares garantidos pelas prefeituras, enquanto os políticos dessas regiões, onde eles mantêm seus currais eleitorais, ficam cada mais ricos.
*Colunista