
Acabou sendo escancarada, na grande imprensa, a relação pessoal entre o deputado federal Alexandre Ramagem e o empresário Rodrigo Catarata, investigado por ligações com o garimpo ilegal em Roraima, amizade esta que vem desde que Ramagem foi delegado da Polícia Federal (PF) no Estado. O parlamentar foi condenado pela participação na trama golpista relacionada aos atos de 8 de janeiro, tornando-se foragido da Justiça brasileira depois de fugir para os Estados Unidos.
O filho de Rodrigo Cataratas, o empresário Celso Rodrigo de Mello, foi preso em Manaus em 13 de dezembro pela PF, durante a investigação que apura a fuga de Ramagem pela fronteira com a Guiana com ajuda dele. Ele é proprietário da empresa Cataratas Poços Artesianos, que é uma gestão que divide com o pai. Celso já havia sido preso em novembro de 2022 por suspeita de explorar ilegalmente ouro na Terra Indígena Yanomami. O caso está em sigilo.
Essa relação de Ramagem com a família Catarata, que agora está explorando o garimpo de ouro na Guiana, passou a ser alvo de intenso debate diante da expectativa de que a Câmara dos Deputados delibere sobre a cassação do mandato do parlamentar. Além disso, expõe a conexão de um então delegado da PF com pessoas investigadas por atuação no garimpo ilegal. Agora, faz todo o sentido que, no início das ações contra o garimpo pelo Governo Federal, uma liderança da PF tenha defendido que Roraima iria entrar em crise se o garimpo fechasse.
Rodrigo Cataratas tem um histórico de acusações importantes. Em 2021, já havia sido acusado de invadir o pátio da PF para atear fogo em um helicóptero do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama). Em janeiro de 2024, foi denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) por suspeita de incendiar um carro do Ibama. Cataratas ainda responde a três ações na Justiça Federal por garimpo ilegal em Roraima.
Na política, um caso que chamou atenção foi que Cataratas declarou à Justiça Eleitoral, quando concorreu a deputado federal em 2022, que mantinha R$ 4,5 milhões em dinheiro vivo em casa. Na mesma declaração, informou um patrimônio de R$ 33,6 milhões, incluindo dez aeronaves e 11 veículos utilizados em atividades ligadas ao garimpo. Atualmente, ele é pré-candidato ao Senado e tem mantidos debates apontando grande influência na política roraimense.
Outro fato de destaque é que, de 2011 a 2023, três empresas ligadas a Cataratas mantiveram 28 contratos com órgãos federais que somaram R$ 67,5 milhões, principalmente com Secretaria de Saúde Indígena (Sesai) para realização de voos para a Terra Yanomami. Mas o Exército, a Petrobras e a PF também assinaram contrato com essas empresas. A Cataratas Poços Artesianos ainda prestou serviços de saneamento nas terras indígenas Yanomami e Raposa Serra do Sol.
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As empresas Icaraí e Tarp, por sua vez, faziam serviços de táxi aéreo para vários territórios indígenas na Amazônia. Significa que, enquanto prestavam serviços para os órgãos públicos federais que atuam em terras indígenas, as empresas também eram investigadas por atuarem no garimpo ilegal, conforme investigações da PF, indicando um duplo jogo de aproveitar voos e obras nas terras indígenas para supostas atuações no garimpo ilegal.
Depois, as pessoas não conseguem entender ou admitir como e por que o garimpo ilegal mostram força até os dias de hoje, apesar das ações de enfrentamento pelo Governo Federal, com atividades ilegais resistindo na Terra Yanomami e se ampliando na Raposa Serra do Sol, além de carregamentos milionários de ouro de procedência ilegal sendo apreendidos na rodovia federal que dá acesso à fronteira com a Guiana.
*Colunista