PRF tem feito grandes apreensões de barras de ouro em Roraima e Amazonas (Foto: PRF/Divulgação)

Enquanto os acontecimentos no país convocam a sociedade a discutir a Segurança Pública como prioridade, em Roraima os políticos já estão em pré-campanha eleitoral, um artifício legal que antes era restrito aos anos eleitorais, mas que agora parece ter sido antecipado. No entanto, os discursos não estão baseados em propostas para enfrentar os grandes problemas.

Com tanta barra de ouro apreendida circulando por rodovias em Roraima e Amazonas, não é estranho que, por aqui, existam pré-candidatos que começaram a aparecer não só defendendo o garimpo nas redes sociais como também indo atrás de empresários de garimpo para que sejam candidatos, obviamente em busca de um “caixa forte”.

Por mais contraditório que possa parecer, a pré-campanha revela um dado no mínimo curioso: enquanto alguns buscam ancorar seus discursos em favor do garimpo, tema que agrada uma grande parcela da sociedade, o garimpo ilegal em terras indígenas foi um dos responsáveis pelo fortalecimento do crime organizado no Estado e, principalmente, pela contaminação das instituições locais, incluindo a política e a polícia.

Os discursos contra o fechamento do garimpo nunca foram velados ou dissimulados, mas feitos abertamente na mídia local. Inclusive, surgiu até dirigente sindical de instituição policial dando entrevista afirmando que Roraima iria entrar em colapso se o garimpo na Terra Yanomami fosse fechado. Era a mesma tônica do discurso de políticos em emocionadas reportagens.

Até a TV Cultura local fez matéria dando voz a empresário de garimpo que desafiava a Justiça Eleitoral e a Polícia Federal, durante a campanha eleitoral, desfilando pela cidade com uma carreta que rebocava em exibição um helicóptero pintado de verde e amarelo que havia sido apreendido sob acusação de dar apoio ao garimpo ilegal.

Não foi a primeira vez que para Roraima restaram as mazelas do garimpo ilegal, enquanto as riquezas eram concentradas em um pequeno grupo que contrabandeava o minério para outros estados e até para o exterior.  No fim da década de 1980, quando ocorreu a primeira grande invasão à Terra Yanomami, a corrida ao El Dorado trouxe uma migração em massa e levou embora o ouro, deixando para a população roraimense a pobreza na periferia de Boa Vista, quando estourou o fenômeno das “galeras”, como eram chamadas as gangues violentas que disputavam território.

Hoje são as facções criminosas que se estabeleceram nos bairros da Capital a partir do garimpo ilegal na Terra Yanomami, que concentrou crimes como tráfico de droga e de armas, o chamado narcogarimpo. Com as recentes ações de repressão do Governo Federal, os criminosos voltaram a atuar em Boa Vista, inclusive facções venezuelanas que se consorciaram com criminosos brasileiros.

Ignorando todo esse contexto, os políticos não se intimidam em defender o garimpo, inclusive um dos discursos que se fortalece a cada campanha eleitoral é a defesa da volta do garimpo, que foi o primeiro discurso de Bolsonaro quando ainda era candidato a presidente, quando chamava Roraima de “a menina dos olhos”. E o garimpo ilegal explodiu.

E já sabemos no que resultou a nova invasão garimpeira que se deu a partir de 2019. As facções estão aí, audaciosas e matando à luz do dia e em locais de grande movimentação, normalizando cenas criminosas de barbárie, enquanto a pré-campanha mostra a tônica de seu discurso.

*Colunista

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