JESSÉ SOUZA

A maior apreensão de ouro ilegal e as grandes conexões

Carregamento de ouro ilegal apreendido pela PRF na BR-401 está avaliado em R$61 milhões (Imagem: Reprodução)

O Estado de Roraima ganhou repercussão na imprensa nacional ao registrar a maior apreensão do ouro no país durante uma abordagem feita pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), na tarde desta segunda-feira, quando foram descobertos 103kg de ouro escondidos em uma caminhonete que trafegava pelo trecho urbano da BR-401, em Boa Vista. Essa rodovia dá acesso à Guiana. As barras de ouro estão avaliadas em R$ 61 milhões.

Até o momento, não foi divulgada a identidade do condutor do veículo onde as barras de ouro estavam escondidas no painel nem a origem e destinação do carregamento ilegal. O que se sabe é que o suspeito trabalha com construção civil realizando grandes obras no Estado. No entanto, as ocorrências sobre garimpo ilegal têm mostrado filhos de ex-governadores presos, policiais militares e políticos envolvidos em venda de armas e munições ilegais para garimpeiros, além de laboratório clandestino de extração e separação de ouro encontrado pela PF em Boa Vista.

Essa grande apreensão soma-se a outros casos. Importante destacar que o garimpo ilegal não foi apenas um movimento espontâneo de garimpeiros que invadiu a Terra Indígena Yanomami e Terra Indígena Raposa Serra do Sol a partir de 1999. Foi um projeto do governo da época, quando o então presidente Jair Bolsonaro, sob articulação do senador Chico Rodrigues, aliou-se à Sociedade de Defesa dos Índios de Roraima (Sodiurr), entidade que sempre esteve aliada ao governo local, para abrir as terras indígenas para exploração mineral.

Em 2020, estava em curso um projeto do governo para tentar legalizar o garimpo para atender aos interesses de empresas multinacionais americanas e canadenses, conforme denunciaram lideranças indígenas do Conselho Indígena de Roraima (CIR). Inclusive, as lideranças chegaram a divulgar que fazia parte do plano nomear o deputado federal Eduardo Bolsonaro como embaixador nos Estados Unidos, o que acabou não ocorrendo, para que grandes empresas norte-americanas pudessem explorar o minério em Roraima.

O desenrolar desse projeto todos conhecem, quando as terras indígenas em todo o país passaram a ser alvos de projetos de lei que liberavam a mineração e o agronegócio, além do projeto que instituiu o marco temporal. Somente no atual governo começou o enfrentamento ao garimpo ilegal nas terras indígenas, principalmente na Terra Yanomami, inclusive com o fechamento do espaço aéreo, o que freou o transporte de minério ilegal em aeronaves, forçando o transporte por terra pelas BRs 174 e 401.

Não foi à toa que, antes dessa ocorrência, a maior apreensão de ouro ilegal em Roraima havia sido a de 21 kg, em junho de 2024, quando duas pessoas em um carro vindo de Manaus (AM) pela BR-174 estavam com 33 barras do minério. Fora as outras apreensões menores, inclusive de cassiterita, chamada de “ouro negro”, encontrada em abundância na Terra Yanomami, revelando o grande esquema em torno do garimpo ilegal, que envolve gente com influência em Roraima.  

É necessário que o grande esquema seja desmontado, inclusive dando nome aos bois, para que a sociedade possa monitorar os meandros dessas questões do garimpo ilegal, que por sua vez se entrelaça com a política e que ajuda a lavar o dinheiro da corrupção.  

*Colunista

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