Jessé Souza

Bolsa dos ricos 45

Jessé Souza* Ganhou repercussão, na internet, uma proposta no mínimo esdrúxula de se proibir de votar as pessoas que recebem benefícios sociais, como o Bolsa Família. Essa ideia torta não se sustenta porque não há amparo constitucional, a qual visa tão somente fomentar um regime de exceção às famílias pobres, culpando-as por tudo que ocorre de ruim no Brasil. Porém, trata-se de um pensamento recorrente que ganha volume entre aqueles setores extremistas da sociedade e que costumam contaminar cidadãos desprevenidos, que por sua vez se tornam presas fáceis na hora de morder as iscas lançadas por setores retrógrados. É fato que a concessão de benefícios sociais precisaria de uma implementação e de uma rigorosa fiscalização para evitar que pessoas recebam os valores indevidamente e para evitar que esses programas se tornem uma política de dependência crônica. Porém, seria preciso uma política bem maior para tirar, também, os benefícios sociais concedidos pelo governo aos ricos. Quando uma empresa de grande porte ou um banco privado vai à ruína, o negócio não vai simplesmente à falência para que os culpados fiquem largados ao prejuízo que plantaram. A primeira providência é recorrer ao governo, que injeta milhões ou bilhões para salvar o negócio dos grandes empresários e dos banqueiros. Esses recursos vultosos são, de longe, muito mais expressivos do que aqueles que vão parar no bolso das famílias pobres que recebem benefícios sociais. A classe média não perde tempo para buscar suas cotas e seus benefícios sociais, principalmente quando seus filhos precisam de alguma bolsa nas universidades federais. Todos já se esqueceram que muitos deles eram mandados estudar no exterior ou mesmo para outros estados com dinheiro público, bancado por esse mesmo povo que recebe Bolsa Família. Além da hipocrisia que normalmente impera em críticas aos benefícios sociais recebidos pelas famílias pobres, existe ainda uma verdadeira fachada para esconder que os maiores beneficiados de recursos públicos são exatamente os ricos, os milionários. E, para esconder isso, surgem campanhas desse tipo, querendo jogar a culpa nos pobres. Até mesmo a chamada “elite pensante” não se avalia antes de atacar os benefícios sociais. Muitas turmas de recém-formados no ensino superior, em vez de mostrarem que estão aptas a buscarem sua independência ao menos intelectual, correm logo em busca do governo ou de políticos para bancar suas formaturas em forma de “paraninfos”. No entanto, costumam atacar ferozmente quem recebe Bolsa Família. É preciso que o cidadão saiba discernir os discursos retrógrados, que visam confundir a opinião pública, lançando a culpa nos que menos têm, enquanto os ricos e poderosos se locupletam dos cofres públicos sem ser incomodados. *Jornalista [email protected]