
A produção de caju em Roraima ganhou novo impulso com o Festival do Caju, aberto nesta sexta-feira (28), no município de Bonfim. Com tecnologia, capacitação e integração entre instituições de pesquisa e produtores, o evento busca consolidar a cajucultura como uma das cadeias mais promissoras do estado. A programação segue até este sábado (29).
A chefe-geral da Embrapa Roraima, Hyana Lima Primo, destaca que o festival resgata uma tradição e fortalece a identidade produtiva do município. Segundo ela, Bonfim e Normandia têm relevância histórica na produção de caju, impulsionada nos últimos seis anos pelo avanço da cajucultura comercial.

“A fruta, oriunda de cajueiros nativos, ganhou novo fôlego com o incentivo da Embrapa, que implantou unidades demonstrativas com cultivares aprimoradas, desenvolvidas para elevar a produtividade tanto da castanha quanto do pedúnculo”, explica.
Hyana aponta que a localização estratégica de Bonfim na fronteira com a Guiana somada à previsão de conclusão da estrada internacional nos próximos dois anos, abre novas oportunidades para o mercado caribenho.
“As cultivares da Embrapa, com padrão de qualidade compatível com as exigências internacionais, também devem favorecer a comercialização”, finalizou.

Produtores apostam na tecnificação
O proprietário da Fazenda Desiderata, o produtor Ruben Dário, atua com caju-anão precoce das variedades CCP 076 e BRS 226, ambas de dupla aptidão. Ele conta que possui aproximadamente dez hectares de plantação, incluindo uma área experimental em parceria com a Embrapa.

“Nossas terras estão aptas ao cultivo da cajucultura, e estamos entrando no terceiro ano de plantio. Para sustentar a produção até que o caju gere renda plena, também cultivamos abacate, manga, batata-doce, milho e feijão”, diz.
O produtor destaca, ainda, a importância da apicultura. A fazenda mantém um apiário, considerando o papel das abelhas para aumentar a produtividade do caju. O mel produzido é comercializado em Bonfim, Boa Vista e até enviado para a Venezuela.
Sobre o festival, Ruben considera o evento essencial para a qualificação da mão de obra e o fortalecimento da cadeia produtiva.

“O conhecimento sobre manejo, controle de pragas, adubação e poda ainda é insuficiente. No ano passado, precisei descartar toneladas de caju por falta de estrutura para o processamento. Falta cadeia produtiva, não produção”, afirma.
Tecnologias e pesquisas sendo aplicadas em Roraima
A pesquisadora da Embrapa, Cássia Pedrozo, explica que o evento reúne especialistas da Embrapa Agroindústria Tropical, de Fortaleza, unidade referência no desenvolvimento das principais tecnologias do caju no País.

“Nosso objetivo é transferir as tecnologias geradas e adaptá-las à realidade de Roraima, produzindo frutos de alta qualidade. Embora ainda não haja clones recomendados especificamente para o estado, sabemos que o caju se adapta muito bem aqui, sendo nativo da região”, afirma.
Ela explica ainda que o cultivo com material genético melhorado reduz a variabilidade e aumenta a qualidade e produtividade dos frutos, sem substituir o extrativismo, essencial para muitas comunidades indígenas. “As pesquisas também avançam em áreas como colheita, pós-colheita e processamento”, fechou.
O chefe-geral da Embrapa Agroindústria Tropical, Gustavo Saavedra, reforça que desde 2018 a introdução do cajueiro clonal é um clone de um cajueiro desenvolvido através de melhoramento genético, para garantir mais desempenho e lucratividade.

“O desafio é mudar o modelo mental dos produtores, ensinando práticas modernas que tornam a cajucultura um negócio competitivo”, pontua.
Saberes tradicionais ganham espaço
A representante da Associação Reviver de Moradores Indígenas, Dole Trussie Rodrigues Nicolau e sua família, trabalham com o caju há mais de 20 anos, produzindo uma variedade de derivados tradicionais.




Entre os produtos estão o mocororó, bebida fermentada feita apenas com o caldo puro do caju; o licor de caju, preparado com calda caramelizada e bebida alcoólica; a gelatina de caju, feita do suco do fruto; a farofa de caju, que aproveita a parte sólida da polpa; e o doce de caju, preparado com o fruto cozido até engrossar.



Dole destaca que participar do festival é motivo de orgulho. “É muito bom ter um espaço para mostrar o que a nossa família produz”, comentou.
Cadeia produtiva em expansão
Com a retomada do festival e o envolvimento direto de instituições de pesquisa, produtores rurais e comunidades tradicionais, a expectativa é que o evento impulsione a consolidação da cajucultura em Roraima, ampliando mercados, fortalecendo a produção e valorizando o potencial econômico e cultural do caju no estado.
Cajucultura em Roraima
A Assembleia Legislativa de Roraima (ALERR) promoveu, nesta quinta-feira (27), uma audiência pública dedicada ao fortalecimento da cadeia produtiva do caju no estado. O encontro, realizado no plenário, reuniu técnicos, pesquisadores, produtores, parlamentares e representantes de diversos órgãos públicos.

A iniciativa foi proposta pelo deputado Gabriel Picanço (Republicanos), que destacou a importância de expandir a cajucultura, especialmente nos municípios de Bonfim e Normandia. “Roraima tem enorme potencial. Queremos fortalecer a produção em escala industrial e gerar mais renda aos nossos produtores”, afirmou.
Durante a audiência, pesquisadores da Embrapa Agroindústria Tropical, de Fortaleza (CE), e da Embrapa Roraima apresentaram soluções tecnológicas para o cultivo, o beneficiamento e a comercialização do caju, com foco na superação dos desafios pós-colheita e na ampliação das exportações.

A chefe-geral da Embrapa Roraima, Hyana Lima, destacou que o estado vem avançando na fruticultura com o uso de cultivares mais resistentes e de maior valor agregado.“Nosso foco é fortalecer a produção local, atender às exigências do mercado internacional e preparar os produtores para se tornarem exportadores”, explicou.

Já o chefe-geral da Embrapa Agroindústria Tropical, Gustavo Saavedra, ressaltou que, enquanto o Nordeste já opera com modelos de produção semi-extrativista e de alto desempenho, Roraima ainda trabalha predominantemente com o extrativismo. “O desafio é evoluir para sistemas de alta performance, aumentando a competitividade do produtor”, afirmou.

A audiência pública reforçou a necessidade de integração entre instituições, produtores e setor privado para transformar o potencial do caju em resultados concretos para a economia roraimense.