A necessidade de Nicanô, que é diabético, por um chocolate com alto teor de cacau (acima de 80%) e sem aditivos levou Kéully a comprar sua primeira melanger. Foto: arquivo pessoal/Kéully Freitas
A necessidade de Nicanô, que é diabético, por um chocolate com alto teor de cacau (acima de 80%) e sem aditivos levou Kéully a comprar sua primeira melanger. Foto: arquivo pessoal/Kéully Freitas

No sul de Roraima, uma história de amor, necessidade e visão de mercado está transformando a produção de cacau em um produto gourmet de alto valor agregado. A família de Kéully Freitas, 36 anos, e Nicanô Saraiva, 59, não apenas cultiva cacau, mas está fechando o ciclo produtivo completo para lançar o primeiro chocolate no conceito “Tree to Bar” (da árvore à barra) do estado.

Tudo começou em 2024, na Chácara João e Maria’s, em Caroebe. A necessidade de Nicanô, que é diabético, por um chocolate com alto teor de cacau (acima de 80%) e sem aditivos levou Kéully a comprar sua primeira melanger – um tipo de máquina usada na fabricação artesanal de chocolate – e começar a testar receitas.

Foto: arquivo pessoal/Kéully Freitas

“Meu pai é diabético e não se achava chocolate 80% acima. Comecei a testar receitas. Hoje, ele consome chocolate 70% a 100% tranquilamente, e não altera a glicemia dele”, contou Kéully.

A lavoura da família, com 5 mil plantas de cacau seminal, completou 6 anos, e a decisão de transformar as amêndoas em chocolate veio também como uma estratégia econômica. Diante da baixa constante do preço da amêndoa no mercado, que não cobria os custos de mão de obra e insumos da fazenda, a agregação de valor se tornou essencial para a sobrevivência do negócio familiar.

A família afirma ser a primeira do estado a fechar o ciclo do cacau no modelo tree to bar, que transforma a amêndoa colhida na propriedade no produto final, tudo no mesmo local. “É um valor que não é só financeiro, mas cultural, histórico e familiar”, explicou Kéully.

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O diferencial da receita

Foto: arquivo pessoal/Kéully Freitas

A marca Roraimí, desenvolvida com orgulho roraimense, tem como pilar a qualidade e a inclusão alimentar. “Nós produzimos um chocolate artesanal, daquele raiz que você pode consumir sem medo, não tem adição de gordura vegetal, não tem adição de conservante. É simplesmente nibs de cacau, o açúcar [demerara, cristal ou mascavo] ou adição de xilitol para quem é diabético. Então a gente entrega um produto de qualidade, que você pode consumir à vontade”, explica a empreendedora.

Além disso, a família já oferece barras que variam de 40% a 100% de cacau e com sabores da Amazônia. A riqueza regional é explorada com adições autorais como Cumarú, café robusta amazônico, lâminas de cupuaçu e noz moscada.

Colocando Caroebe no mapa

Foto: arquivo pessoal/Kéully Freitas

Hoje, a agroindústria familiar já opera com três melangers e outros equipamentos, parte deles comprados apenas nos últimos meses. A meta é aumentar a produção para abastecer não só Caroebe, mas outros municípios do estado.

A empresa também já está em processo de legalização junto à Agência de Defesa Agropecuária de Roraima (ADERR) para obter o Selo Artesanal, visando a comercialização para fora do estado e a garantia de boas práticas de produção.

“Eu quero que Caroebe entre no mapa do turismo, numa rota turística do cacau. Temos uma verdadeira riqueza em nossas mãos. Não só pelo valor agregado na transformação da amêndoa, mas o valor cultural, familiar e histórico”, destacou.

Com a expectativa de gerar empregos diretos e indiretos, a família demonstra que o cacau roraimense tem potencial para se tornar uma referência de qualidade, pronto para ser consumido por atletas, pessoas com restrições e qualquer um que aprecie um chocolate de origem e excelência, inclusive mirando o mercado vizinho da Guiana.