Saúde e Bem-estar

Yanomami são infectados com malária enquanto dormem, aponta pesquisa

Levantamento foi realizado em comunidades em Roraima e Amazonas. Pesquisadores coletaram mais de 6 mil mosquitos adultos e mais de 9 mil larvas de Anopheles, transmissor da malária.

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Uma pesquisa apontou que os vetores da malária na Terra Yanomami possuem picos de transmissão da doença nos períodos do crepúsculo e próximo da meia-noite, quando os indígenas já estão dormindo. O levantamento foi realizado por pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) em comunidades de Roraima e Amazonas. O objetivo era de compreender o ciclo do agravo e traçar estratégias de controle.

A malária, conforme o IOC/Fiocruz, pode ser transmitida por diferentes espécies de mosquitos silvestres do gênero Anopheles, chamados de anofelinos. Dependendo da espécie, os insetos possuem hábitos diferentes, como os criadouros preferenciais, horários de picada e proximidade com as habitações humanas.

O estudo ocorreu em três regiões com altos índices da doença: Marari e Toototobi, no Amazonas, e Parafuri, em Roraima. Entre 2012 e 2015, mais de 6 mil mosquitos adultos e mais de 9 mil larvas de Anopheles foram coletados, além de 177 criadouros mapeados, com registro de características ecológicas e georreferenciamento.

Nos locais com presença do An. darlingi, a transmissão da malária pode ocorrer também dentro dos shabonos, durante a noite, explica a coordenadora do estudo entomológico, a pesquisadoras Teresa Fernandes Silva do Nascimento, do Laboratório de Mosquitos Transmissores de Hematozoários do IOC.

“An. darlingi foi a espécie mais encontrada dentro dos shabonos, embora tenha predominado no peridomicílio, nas áreas de Parafuri e Marari. Observamos dois picos de atividade desse vetor: no crepúsculo vespertino e perto de meia-noite. Nesse horário, os indígenas já estão dormindo e podem ser picados”, aponta a entomologista.

A proliferação do An. darlingi foi verificada principalmente em lagos associadas a rios, com grande exposição ao sol. Outros vetores apresentaram maior diversidade de criadouros, incluindo lagos, áreas inundadas, córregos e igarapés. De acordo com Teresa, o controle da malária é feito principalmente através do diagnóstico e tratamento dos indivíduos infectados. Medidas que buscam reduzir o contato com vetores também podem contribuir para conter a doença.

“Mosquiteiros impregnados com inseticida podem ser usados para reduzir as picadas à noite, mas é importante ter monitoramento constante para verificar se a tela não está rasgada e se é fechada corretamente, ou seja, se o uso dessa ferramenta está sendo adequado. Além disso, os criadouros próximos às aldeias podem ser monitorados para avaliar a presença de larvas e do principal vetor. Embora o manejo das grandes coleções liquidas, como os rios, não seja viável, pequenos criadouros podem ser eliminados”, enumera a pesquisadora.

Teresa destaca que houve variações significativas entre as regiões e as comunidades.

“O Anopheles darlingi é o principal vetor da malária no Brasil e confirmamos a importância dele em muitas comunidades. Porém, houve áreas onde esse vetor não foi detectado nesse estudo, sendo outras espécies identificadas. Por exemplo: o Anopheles oswaldoi que, embora não tenha sido encontrado infectado nas áreas yanomamis estudadas, é considerado vetor secundário em algumas áreas do Brasil, e o Anopheles nuneztovari, que é o vetor primário em algumas regiões da Venezuela e Colômbia”, pontua Teresa.

Vetores mais prevalentes

A pesquisa encontrou oito espécimes de An. darlingi com infecção por Plasmodium, parasito causador da doença. Os cientistas também detectaram o parasito em quatro An. intermedius e em um An. nuneztovari.

Considerando as três regiões, quatro espécies de vetores foram as mais frequentes. O An. darlingi foi encontrado em todas as aldeias de Marari e Parafuri, sendo o mais comum em diversas delas. Porém, em Toototobi, a presença da espécie foi quase nula no período da pesquisa.

Mosquitos do complexo de espécies An. oswaldoi s.l. foram predominantes em aldeias de Toototobi e Parafuri. O complexo é composto por espécies crípticas: grupos de insetos com aparência muito semelhante, mas com diferenças genéticas e de comportamento, que influenciam na capacidade vetorial.

Ao analisar o genoma dos mosquitos, os pesquisadores identificaram um dos membros do complexo de espécies mais importantes na transmissão da malária: Anopheles oswaldoi A. Considerado na literatura como um vetor secundário da malária, o inseto pode ter papel importante na transmissão, como já foi observado em algumas áreas no Acre, em Rondônia e na Colômbia.

Principal transmissor da malária em regiões da Venezuela, da Colômbia e do Peru, o An. nuneztovari foi capturado em grande quantidade em uma única comunidade de Marari. Nas outras, esteve ausente ou foi raramente encontrado.

Por fim, o Anopheles intermedius foi o mais presente em uma comunidade de Toototobi, sendo capturado com menor frequência em outras comunidades das três regiões. O mosquito é considerado um vetor secundário da malária, transmitindo a doença ocasionalmente.

A partir do estudo, os cientistas elaboraram uma nova classificação para os criadouros naturais destas áreas, incluindo descrição detalhada e medida dos criadouros. Também apresentaram melhorias nos métodos de coletas de larvas com uso de botes infláveis visando a otimização do trabalho. Ao todo, 12 espécies de anofelinos foram encontradas, sendo seis reconhecidas por atuar na transmissão da malária. 

A pesquisa contou com apoio da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) e do Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (DSEI Yanomami). Além do IOC, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro (Faperj) financiaram o estudo.

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