A diretora executiva da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal (FMCSV), Mariana Luz, defendeu que o Brasil valorize a primeira infância, período que vai do zero ao sexto ano de idade, como pontapé inicial importante para orientar toda a caminhada educacional.
Nomeada em 2015 como jovem líder global pelo Fórum Econômico Mundial em Davos, Mariana destacou à Folha que é nesta fase da vida que 90% do desenvolvimento cerebral é formado. “Pra atingir sua máxima possibilidade de desenvolver até os seis anos, você vai ter os benefícios pra Educação, Saúde Pública, Segurança Pública e Economia de um modo geral, mais empregos, mais geração de renda. Pra cada dólar investido na primeira infância, tem sete de retorno”, disse.
“Se você tem a base, a tua possibilidade de aprendizagem na jornada inteira de Educação é três vezes maior. Acho que o Brasil precisa olhar pra isso”, declarou, defendendo que haja ambientes propícios e de qualidade para o desenvolvimento das crianças.
A fundação, a qual Mariana Luz lidera, atua para sensibilizar gestores pelo Brasil sobre a importância da primeira infância. Em Boa Vista, a instituição apoiou a rede municipal de ensino na construção de um currículo para a educação infantil em consonância com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), e auxiliou na implementação deste currículo por meio da formação continuada dos educadores, e na documentação do processo, para que os aprendizados possam servir como referência para outras redes de educação.
A CEO da FMCSV destaca que a implementação da atenção à primeira infância em Boa Vista, como nas escolas e creches municipais e praças públicas, é um exemplo para o Brasil, embora reconheça que há sempre o que melhorar.
“A criança é integrada à cidade, faz parte, é vista, tem um lugar pra se desenvolver. E essa estrutura funcionar dessa forma é raro no Brasil e requer um esforço constante pra que isso continue acontecendo”, avaliou.
Educação inclusiva
Mariana Luz acredita que a primeira infância é a melhor época para ajudar no desenvolvimento de estudantes com deficiência e defendeu a existência de programas de inclusão nas escolas. Para ela, os professores precisam estar preparados para qualquer tipo de situação. “A gente acredita numa educação inclusiva, a ver um preparo, uma formação dos próprios professores, pra que o aluno com deficiência seja parte da sala de aula tradicional, e não da específica”, pontuou.
“A educação infantil é menos valorizada, de modo geral, no Brasil. E no mundo, talvez. O ponto é como de fato a gente valorizar a educação infantil e os profissionais da educação infantil. Porque aí, você vai ter mais gente querendo ir pra educação infantil, mais gente querendo se formar, se capacitar e se manter nessa formação continuada que inclui toda a questão da educação inclusiva”, acrescentou.
Mariana Luz esteve nesta semana, em Boa Vista, para conhecer mais sobre o trabalho com a primeira infância na capital. A visita incluiu visita a locais, como creche, UBS (Unidade Básica de Saúde), Cras (Centro de Referência da Assistência Social) e praças. Ela também acompanhou uma visita domiciliar do programa Família que Acolhe.
A CEO da FMCSV é formada em Relações Internacionais pela Universidade Estácio de Sá, com pós-graduação e mestrado em História pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), e especializações nas Universidades de Oxford e Harvard Kennedy School of Government.
As principais frentes de atuação da fundação que Mariana Luz lidera são: a promoção da educação infantil de qualidade – creche para quem quer ou precisa e pré-escola para todos; fortalecimento dos serviços de parentalidade, para apoiar quem cuida; a avaliação do desenvolvimento das crianças – o que não se pode medir, não se pode melhorar; e a sensibilização de toda a sociedade sobre o impacto, a longo da vida, das experiências vividas na primeira infância.