Ouro de procedência ilegal apreendidos pela PRF em Roraima nos últimos dois anos (Foto: Divulgação)

A condenação pela Justiça Federal do empresário Bruno Mendes de Jesus a quase 9 anos de prisão em regime fechado, por transportar 103Kg de ouro de origem ilegal, em Roraima, considerada a maior apreensão da história da Polícia Rodoviária Federal (PRF), foi um passo importante no enfrentamento ao garimpo ilegal. Foi uma resposta rápida e necessária como parte da estratégia de combater esse tipo de crime.

As seguidas apreensões de ouro ilegal pela BR-401 já vinham revelando uma rota de saída pela Guiana, país vizinho onde foi montada não só uma base de apoio ao garimpo ilegal brasileiro, mas também de onde está surgindo uma base política para influenciar as eleições em Roraima com lançamento de candidaturas de apoiadores do garimpo ilegal, um crime que tem conexões amplas, inclusive com o crime organizado.

As articulações e estruturas montadas no país vizinho podem ser medidas por outro fato que, em princípio, não teria nada a ver com o garimpo ilegal: a fuga do deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) de forma clandestina pela fronteira com a Guiana. O parlamentar contou com apoio do filho de um conhecido empresário de garimpo, que se mudou de Roraima para o país vizinho, o qual foi candidato a deputado federal e vem anunciando que irá tentar concorrer provavelmente ao Senado.

Enquanto isso, as respostas das autoridades brasileiras ao garimpo ilegal têm ocorrido desde a criação da Casa de Governo, em Boa Vista, com atuação na Terra Indígena Yanomami focada em inteligência, comando e controle por meio de agências federais como a PRF, Polícia Federal (PF) e Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). As operações do governo brasileiro já somam R$ 184 milhões em ouro apreendido desde 2024.

As séries de apreensões realizadas pela PRF e pela PF ao longo deste ano de 2025, no contexto das ações coordenadas pela Casa de Governo para desarticular o garimpo ilegal, resultaram na retirada de aproximadamente 215 quilos de ouro de circulação em Roraima, impactando diretamente a logística da atividade criminosa. Só em novembro, 22 garimpeiros foram presos em operações integradas.

Após interromper rotas de transporte e financiamento do garimpo, as forças federais passaram a atingir diretamente o ativo central da atividade criminosa, que é o ouro. Foram 249 quilos apreendidos em Roraima desde a abertura da Casa de Governo, retirando de circulação recursos que sustentavam a logística ilegal, em uma estratégia baseada no controle territorial e no estrangulamento financeiro para proteger as terras indígenas.

Por meio dessas ações, a Casa de Governo anunciou que houve redução de 98% na abertura de novos garimpos, resultado do sistema de comando e controle implementado desde março de 2024, que viabilizou ações simultâneas e permanentes de fiscalização e presença territorial. No entanto, o ouro ilegal de outras regiões, especialmente do Pará e Amazonas, está seguindo para a Guiana, que é outro desafio para as autoridades.

Significa que se tornou fundamental para as autoridades brasileiras ficarem atentas ao que se passa na Guiana, pois as movimentações não só do garimpo ilegal partem para lá, mas também as intensas conversações para influenciar a campanha eleitoral em Roraima, no próximo ano. A fuga de Ramagem por lá é o grande sinal de alerta a ser percebido.  

*Colunista

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