

Enquanto as forças policiais de Roraima começaram a agir tarde demais, porque havia quem alegasse que se tratava de “venezuelanos matando venezuelanos”, inclusive numa retórica com viés xenofóbico, as facções venezuelanas ganharam força, matando à luz do dia e em locais de grande movimento em Boa Vista, perdendo qualquer medo das autoridades e dos poderes constituídos.
Como as respostas nunca foram firmes, a audácia dos criminosos chegou a um nível preocupante. No dia 1º de dezembro, dois faccionados que mataram um venezuelano dia 7 de outubro passado, em uma via movimentada de uma área comercial no bairro Jóquei Clube, retornaram de moto ao local da execução para dar sequência a um novo ato criminoso: retaliar os comerciantes da localidade devido à divulgação do vídeo da câmera de segurança que gravou o assassinato.
Não se trata de uma retaliação qualquer. A dupla criminosa lançou um coquetel molotov contra um dos comércio, que por pouco não provocou uma tragédia sem precedentes, pois o fogo não se alastrou pelas lojas e veículos estacionados em frente, o que poderia ter causado não apenas prejuízos financeiros aos empreendedores, mas também possíveis mortes de pessoas que nada tem a ver com o problema.
Para quem não sabe, coquetel molotov é uma arma incendiária caseira, utilizada em táticas de guerrilhas, elaborada com uma garrafa de vidro cheia de gasolina, artefato altamente explosivo e que incendeia o alvo para onde for lançado. Significa que as facções venezuelanas passaram a utilizar táticas de terrorismo para mostrar seu poderio para enfrentar e intimidar quem os denuncia ou contrarie seus interesses.
O que chama a atenção é que esse caso criminoso e preocupante não ganhou qualquer repercussão, mesmo depois de vir a público, divulgado pelo tenente da Polícia Militar, Roney Cruz, nesse fim de semana, que classificou a ação como demonstração de ousadia de criminosos que tentam impor medo através do terrorismo urbano. Mais estranho ainda é que os perfis policialescos nas redes sociais também ficaram em silêncio.
Aqui está uma virada de chave da ação dos faccionados venezuelanos. Eles se sentiram livres para cometer crimes atrozes, antes matando, esquartejando e desovando corpos ou enterrando em cemitério clandestinos, passando a agir de cara limpa a qualquer hora do dia e da noite em locais de grande movimento. Agora, mostraram que estão dispostos a ameaçar a sociedade para que eles sigam impunes com seus atos.
É um grave sinal de alerta para o Estado de Roraima, pois os faccionados estão mandando o recado de que não vão tolerar quem os denuncie, conforme ficou visível no ataque com coquetel molotov, no bairro Jóquei Clube. É a senha que faltava para aqueles que achavam que essa onda criminosa seria “apenas problemas de venezuelanos”, e não da sociedade roraimense.
E as autoridades, o que dizem disso? Vão fingir que foi apenas “um caso isolado”? O fim desse ano violento está próximo e a constatação que precisa ficar é a de que o ano de 2026 precisa ser decisivo para desratizar o Estado em todos os sentidos, a começar pela corrupção, que abre portas para o crime organizado, incluindo as facções venezuelanas, que estão se preparando para controlar a Capital.
*Colunista