

As celebrações dos 81 anos de criação da Polícia Militar de Roraima (PMRR), nesta quarta-feira, 26, acabaram sendo ofuscadas por uma forte publicação em uma rede social compartilhada no perfil pessoal da policial militar Adriane Severo, que fez um relato sobre o sentimento dos policiais após um mês de eventos pelo aniversário da instituição militar.
O vídeo de 2m45s caiu como um desabafo em favor de toda tropa, com frases igualmente fortes na legenda: “Tem hora que o silêncio pesa mais do que o colete e que a sensação de abandono é mais barulhenta do que qualquer sirene”. Para que não haja interpretações dissonantes, é importante que a fala da policial seja transcrita na íntegra. Vamos lá:
“Hoje a Polícia Militar de Roraima está completando 81 anos. Eu queria dizer que é um dia de comemoração. Queria olhar para essa data e sentir alegria no peito. Mas, na verdade. o que eu sinto mesmo é um aperto, um cansaço, um desânimo que a farda não tem conseguido esconder.
Nós tivemos aí um mês inteiro de comemoração, com homenagem, competição, corrida. Mas quem deveria ser o aniversariante não se sentiu parte dessa festa. Porque, pra gente, o que teve mesmo foi escala apertada, missão extra. Quando, na verdade, o que a gente queria era trocar toda essa festividade aí por respeito, por valorização.
Porque a realidade é que estamos cansados. Cansados de sermos chamados de heróis, discursos bonitos. Cansados de ouvir que ‘temos um governo que mais valoriza a Segurança Pública’, enquanto nós vivemos mais de uma década sem reajuste salarial. Nós já fomos a segunda polícia mais bem paga do Brasil. E hoje ocupamos uma das últimas.
Mesmo assim, nós continuamos aqui, firmes, fardados, cumprindo a nossa missão. Mas, de tudo isso, sabe o que mais dói? Dói ver um governo fazendo festas milionárias e dizer que não tem recurso para pagar nosso reajuste. Dói ver quem prometeu brigar pelo nosso reajuste agora segue em silêncio. Dói ver a realidade da instituição sendo camuflada pelo filtro da rede social. Dói ver o policial militar sendo tratado como ‘peão de obra’.
É difícil gravar esse vídeo. Porque eu honro minha farda. Eu amo minha instituição. Eu passei a metade da minha vida aqui. A PM é parte de quem eu sou. Mas amar não significa fechar os olhos para o que vem acontecendo.
Então, o dia de hoje, quando completamos 81 anos, eu quero deixar aqui o meu desabafo. E esse desabafo não é para causar polêmica, não. Mas é para falar o que a tropa sente, pra dar voz a quem já está sem força. A gente tem orgulho, sim, mas comemorar não dá. Não com o coração pesado. Não vendo a tropa sendo sufocada. Não sendo invisível para quem deveria nos enxergar.
Parabéns, Polícia Militar de Roraima, mas nós, que te sustentamos todos os dias, esperamos nosso presente”.
As fortes declarações acabaram servindo como uma radiografia do sentimento dos policiais militares que estão na linha de frente, especialmente dos que não vivem de favorecimento político partidário, com 11 anos com salário defasado, sobrecarregados por escalas para estarem presentes em eventos políticos, sem condições para trabalhar cumprindo suas missões no policiamento ostensivo e no apoio às recorrentes operações policiais.
O ano de 2025 foi um dos piores para a imagem da instituição, com policiais militares presos ou sendo investigados por formação de milícia, favorecimento a garimpo ilegal e até mesmo participação em assassinatos, a exemplo do caso do capitão que era responsável pela segurança do governador; ou de graves acusações contra coronéis por venda de armas e munições ilegais, além de crimes eleitorais.
A instituição Polícia Militar segue firme, apesar desses escândalos envolvendo alguns de seus membros, em especial dos que deveriam ser exemplos por ocuparem cargos do alto escalão. No entanto, o vídeo com o desabafo da policial militar é o mais forte alerta de que a tropa pede socorro para que realmente seja valorizada e revigorada para enfrentar a criminalidade que se avoluma aos olhos da sociedade.
O Estado de Roraima jamais irá vencer essa guerra contra a criminalidade, que se fortaleceu a partir das facções, se não tiver uma PM forte, com a tropa realmente valorizada, não apenas com desfile de viaturas e discursos, mas com policiais com salário dignos, promoções sem viés político e com estrutura ideal para esses novos tempos de crime organizado.
Ou será que vão dar um jeito de punir essa policial por seu desabafo, assim como tentaram fazer com outros que deram sua opinião sobre a realidade?
*Colunista