
O uso de ferramentas de inteligência artificial já faz parte da rotina de milhões de adolescentes brasileiros, especialmente no ensino médio, mas a orientação sobre como empregar essa tecnologia de forma ética e responsável ainda é exceção nas escolas.
O estudo revelou que sete em cada dez estudantes do ensino médio que têm acesso à internet recorrem a plataformas de IA generativa, como ChatGPT e Gemini, para realizar pesquisas e responder atividades escolares.
A pesquisa integra a 15ª edição da pesquisa TIC Educação, divulgada pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), órgão do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), que desenvolve projetos do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), responsável por coordenar e integrar as iniciativas e serviços da internet no país.
Apesar dessa adesão massiva, apenas 32% desses jovens afirmaram ter recebido alguma instrução formal nas instituições de ensino sobre como utilizar esses recursos de forma segura, crítica e adequada.
A coordenadora do estudo, Daniela Costa, explicou à Agência Brasil que essa ausência de orientação traz implicações diretas para a aprendizagem. Segundo ela, as ferramentas de IA inauguram novos modos de construir conhecimento, demandando habilidades específicas para interpretar, avaliar e validar informações.
Daniela reforça que a escola precisa assumir um papel mais ativo nesse processo, preparando os alunos para diferenciar conteúdos confiáveis de respostas completas, porém imprecisas ou enviesadas. “As práticas de busca baseadas em IA exigem que os estudantes compreendam a integridade da informação, a autoria e a importância de questionar a fonte”, afirmou.
Apesar de a pesquisa mostrar que gestores escolares vêm discutindo o uso de tecnologias digitais (68% relataram reuniões com professores e 60% com pais e responsáveis), os encontros ainda priorizam temas como regras de uso de celulares. As diretrizes sobre IA, entretanto, aparecem citadas por apenas 40% deles.
O levantamento também mostra que, mesmo diante das rápidas transformações trazidas pela IA, a formação dos docentes sobre tecnologias digitais diminuiu nos últimos anos. Em 2021, 65% dos professores relataram ter participado de cursos sobre o tema; em 2024, esse número caiu para 54%, com queda ainda mais acentuada na rede municipal. Essa capacitação é essencial para que os professores possam orientar melhor os estudantes e criar ambientes de aprendizagem que promovam o uso responsável e criativo das tecnologias.
A TIC Educação ouviu 945 gestores, 864 coordenadores, 1.462 professores e 7.476 alunos de escolas públicas e privadas, urbanas e rurais, entre agosto do ano passado e março deste ano. Foi a primeira vez que o levantamento investigou especificamente como estudantes utilizam recursos de IA em pesquisas escolares.
O estudo reforça que a conectividade cresce e a IA se integra cada vez mais ao cotidiano dos adolescentes, mas o alerta fica para a falta de orientação sobre o tema. Os resultados reforçam a necessidade urgente de políticas que garantam tanto equidade no acesso às tecnologias quanto preparo pedagógico para lidar com elas.