
As regiões Norte e Nordeste registraram, em 2024, os menores percentuais de trabalhadores por conta própria e empregadores com cadastro no CNPJ, segundo dados recentes divulgados pelo IBGE. Os números refletem a histórica predominância da informalidade nessas áreas do país e reforçam desafios estruturais para o desenvolvimento econômico regional.
Norte tem queda na formalização e apresenta pior indicador do país
O Norte aparece na última posição entre todas as regiões, com apenas 14,8% dos trabalhadores por conta própria e empregadores formalizados no CNPJ. O índice representa uma queda em relação a 2023, quando o percentual era de 17,1%, sendo a única região brasileira que apresentou retração na formalização.
No Nordeste, a proporção chegou a 19,2%, o segundo menor percentual do país. Para especialistas, o resultado reflete dificuldades de acesso a crédito, menor presença de redes empresariais estruturadas e forte presença de ocupações que tradicionalmente operam à margem da formalização.
Sul, Centro-Oeste e Sudeste apresentam os maiores percentuais
Do outro lado do ranking, a Região Sul lidera com 45,2% de trabalhadores com CNPJ, seguida pelo Centro-Oeste (40,3%) e pelo Sudeste (39,8%). Nessas áreas, a presença de cadeias produtivas mais organizadas, maior urbanização e acesso facilitado a serviços financeiros favorecem o processo de formalização.
No total nacional, a cobertura entre trabalhadores por conta própria ficou em 25,7%, enquanto entre empregadores atingiu 80%.
Serviços e Comércio concentram formalizados, mas Norte e Nordeste ainda enfrentam entraves
As atividades de Serviços e Comércio foram as que mais concentraram trabalhadores formais em 2024, respondendo por 44,5% e 21,5% dos empreendedores, respectivamente. Também foram os setores com maiores taxas de cobertura no CNPJ — 38,2% e 47,2%.
Mesmo predominantes nessas regiões, essas atividades não têm impulsionado a formalização no ritmo observado no restante do país. “A estrutura produtiva do Norte e Nordeste ainda é fortemente marcada por pequenos negócios familiares e trabalho autônomo com baixa regularização”, afirmam economistas.
Construção civil registra maior crescimento, mas informalidade continua elevada
O setor da Construção apresentou o maior crescimento em número de cadastrados no CNPJ: foram 70 mil novos registros em 2024. No acumulado desde 2012, o avanço é de 210%, passando de 250 mil para 775 mil trabalhadores formalizados.
Apesar do avanço, o setor mantém baixa taxa de cobertura nacional — 19% — e isso impacta especialmente o Norte e Nordeste, onde a informalidade é forte na construção civil e na agricultura, setores com menor exigência de documentação e emissão de nota fiscal.
Especialistas apontam raízes estruturais da informalidade
Segundo o pesquisador William Kratochwill em coletiva do IBGE, “atividades que permitem maior informalidade, como construção civil e agricultura, concentram empregadores que não emitem nota fiscal ou não seguem todas as exigências legais. Já na indústria, comércio e alguns serviços, a necessidade de formalização é maior devido à estrutura fixa, maior demanda de mão de obra e exigências do mercado”.
Analistas avaliam que ampliar o acesso ao crédito produtivo, reduzir a burocracia e fortalecer programas de qualificação podem ajudar a elevar as taxas de formalização no Norte e Nordeste, diminuindo desigualdades históricas.