
No Dia Nacional de Atenção à Dislexia, 16, um alerta se faz necessário: é preciso entender o que é o transtorno para combater o estigma e garantir os direitos de milhares de pessoas. Caracterizada como um Transtorno Específico de Aprendizagem de origem neurobiológica, “a dislexia é marcada por dificuldades significativas e persistentes na leitura de palavras, na fluência e na precisão de decodificação, além de problemas com a ortografia”. A explicação é da professora Jessick Custódio, coordenadora do curso de Psicologia da Estácio.
“Essas dificuldades são inesperadas para a idade e para o nível intelectual do indivíduo. O principal fator é um déficit no componente fonológico da linguagem, ou seja, na capacidade de processar os sons da fala”, completa Jéssick.
A professora destaca que é essencial diferenciar uma dificuldade temporária de um transtorno. “A dificuldade de aprendizagem pode ser superada quando o estudante recebe o ensino adequado. Já no Transtorno de Aprendizagem, mesmo com ensino apropriado, a pessoa continua sem compreender o significado das palavras”, afirma.
Segundo ela, crianças com dislexia costumam tentar adivinhar palavras durante a leitura, pois não conseguem realizar a decodificação, “ou seja produzir o som que as palavras possuem, já que o nome da letra e o som que ela possui são diferentes”. “Portanto, a identificação precoce do transtorno visa garantir direitos, já que o elemento chave é assegurar que as escolas e instituições ofereçam as adaptações pedagógicas e o suporte necessários, conforme previsto em lei”, ressalta.
Jéssick reforça que o diagnóstico da dislexia deve ser multidisciplinar para garantir precisão. O psicólogo, nesse processo, avalia aspectos como consciência fonológica, memória de trabalho e velocidade de processamento, além de descartar outras condições, como deficiência intelectual ou comorbidades, como o TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade).
Além das dificuldades de aprendizagem, a dislexia pode afetar o desenvolvimento emocional. “Questões como baixa autoestima, ansiedade, frustração, dificuldades de comunicação e baixa autoeficácia são muito comuns. O acompanhamento psicológico é fundamental para fortalecer o repertório emocional da criança e ajudá-la a se desenvolver adequadamente”, destaca.
A ausência de diagnóstico e acompanhamento podem ter consequências graves da infância até a vida adulta. “Entre elas, está a dificuldade de aprendizado em outras disciplinas que dependem da leitura como História e Ciências, levando a um círculo vicioso de fracassos. O aluno pode desenvolver aversão à escola, usando mecanismos de fuga, como faltar às aulas ou simular doenças para evitar situações de exposição”, explica.
Paralelo a essas dificuldades, podem surgir crises de ansiedade, depressão, Transtorno Opositivo Desafiador (TOD) e uma baixa autoestima crônica, por se sentir incapaz. “E tudo isso no longo prazo, a dificuldade de leitura e escrita, podem restringir a escolha de carreira e as oportunidades de desenvolvimento pessoal e profissional”, ressalta.
Jéssick destaca que pesquisas atuais vêm investigando a relação entre dislexia e outras comorbidades, além do desenvolvimento de novas tecnologias que auxiliam na identificação precoce do transtorno. “Intervenções fônicas intensivas e adequadas são capazes de reorganizar as áreas cerebrais envolvidas na leitura, ativando as rotas neuronais corretas. E as pesquisas atuais estão analisando a correlação entre a dislexia e outras comorbidades como o TDAH.
A professora também chama atenção para métodos de intervenção com resultados comprovados. Ela, por exemplo, desenvolveu um estudo sobre intervenções multissensoriais, disponível na internet, que ressalta a importância do uso de estímulos sensoriais no aprendizado de estudantes disléxicos. “Quanto mais cedo a identificação e a intervenção, melhores serão os resultados acadêmicos, emocionais e sociais para a criança. A atenção à dislexia é também uma questão de garantia de direitos”, conclui a professora.