

A deflagração da Operação Imboscare pela Polícia Civil, nesta quarta-feira, é a constatação do que esta coluna vem afirmando há tempos: a atuação audaciosa de facções venezuelanas no Estado não é problema apenas dos venezuelanos envolvidos em crimes, e sim um dos grandes desafios das autoridades da Segurança Pública roraimense.
Essa operação é desdobramento das investigações sobre o caso do duplo homicídio de Andresson Dinardo de Almeida, de 38 anos, e Hederson Ferreira da Silva, de 28 anos, os quais foram mortos e tiveram os corpos esquartejados no bairro Cidade Satélite, no mês de outubro. Só a forma de agir dos criminosos já indicavam que se tratava de um crime praticado aos mesmos moldes de facções venezuelanas.
As investigações apontam que os assassinatos foram cometidos por seis venezuelanos, que logo após o cometimento do crime atroz fugiram para o seu país de origem. Pelo que se sabe do caso, o crime não teria nada a ver com tráfico de droga ou envolvimento com facções, mas motivado por possível crime passional. Aqui está a grande questão.
Se autoridades policiais afirmavam que os crimes cometidos por facções eram “problemas de venezuelanos”, o duplo homicídio derruba esse argumento, pois o caso em questão mostra que qualquer desavença ou problema que atinja interesses de membros de facções ou contrarie amigos de faccionados pode ser motivador de assassinatos de inocentes, seja contra brasileiros ou mesmo venezuelanos.
Essa é a forma do crime organizado se fortalecer, tornando-se um poder paralelo, exibindo força, desafiando os poderes constituídos e impondo suas leis e regras nos bairros periféricos, onde o poder público sempre se mostra ausente em todos os sentidos, tanto na questão da Segurança Pública quanto em políticas públicas para combater as mazelas que deixam vulneráveis as famílias mais pobres.
Os faccionados conhecem muito bem a falta de vontade política para combater o crime organizado transfronteiriço, a não ser as ações isoladas de policiais operacionais que estão na rua combatendo o crime, mas sem uma política de governo, o qual atua com operações midiáticas e pontuais apenas como forma de dar uma satisfação para a sociedade. E nada mais além disso.
Pelo que se vê na política, não há interesse em encarar esse grande desafio, pois os políticos já estão em pré-campanha, enquanto a máquina administrativa fica travada no meio de seguidos pedidos de vistas de um julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre a cassação ou não do mandato do governador, o qual já foi cassado quatro vezes pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE).
Enquanto isso, os criminosos só se fortalecem entre idas e vindas em uma fronteira fragilizada, mesmo que o país vizinho esteja sob o fantasma de uma provável guerra. E os bandidos não temem em mostrar forças ao executar suas vítimas a qualquer hora do dia e no meio de uma rua movimentada de Boa Vista.
*Colunista