Por Marcelle Alvim
Os últimos anos escolares representam uma etapa decisiva no processo de formação integral dos estudantes, especialmente durante a transição entre os ensinos fundamental e médio. Neste período, é comum que surjam sinais de ansiedade escolar, quando os jovens demonstram preocupação excessiva com o desempenho, medo de não corresponder às expectativas e insegurança diante das novas exigências acadêmicas.
Trata-se de um momento de descobertas e escolhas, em que o adolescente vislumbra seu futuro e as novas responsabilidades podem gerar sobrecarga emocional se não houver uma rede de apoio sólida. Consequentemente, a rotina de aprendizagem também é impactada, pois, além das transformações internas típicas da adolescência, as novas dinâmicas escolares e sociais exigem adaptação, equilíbrio e acompanhamento próximo por parte da escola e da família.
Esses desafios podem repercutir profundamente no bem-estar emocional dos estudantes, exigindo atenção e acolhimento por parte da escola, da família e da sociedade. De acordo com um levantamento realizado pelo Ministério da Saúde, desde 2015, os atendimentos relacionados a transtornos de ansiedade no SUS aumentaram 1.575% entre as crianças de 10 a 14 anos. Quanto aos adolescentes de 15 a 19 anos, o avanço foi ainda mais acentuado, com mais de 3.300%, saltando de 1.534 atendimentos, em 2014, para 53.514 em 2024. Os dados evidenciam uma realidade que ultrapassa o ambiente escolar e reforçam a importância de ações integradas que promovam o equilíbrio emocional e o desenvolvimento saudável dos jovens.
Diante disto, torna-se essencial que educadores e famílias mantenham um olhar atento e sensível a esses desafios, reconhecendo que o processo de aprendizagem vai além do desempenho acadêmico. Entre as principais dificuldades vivenciadas pelos estudantes, destacam-se o aumento da complexidade dos conteúdos, a necessidade de maior autonomia nos estudos e a preparação para ingressar no Ensino Médio.
Contudo, os aspectos emocionais exercem um papel ainda mais preocupante, pois impactam diretamente a motivação, a autoconfiança e a capacidade de concentração. Promover um ambiente de escuta, diálogo e apoio mútuo é fundamental para que o estudante se sinta acolhido e preparado para enfrentar essa fase com equilíbrio e segurança.
Como apoiar os estudantes que enfrentam a ansiedade escolar?
O apoio aos adolescentes nesse processo de transição é fundamental, e deve vir de diferentes frentes de atuação. As atividades extracurriculares promovidas nas escolas, como esportes, música, teatro e artes visuais, exercem um papel importante nesse processo de desenvolvimento integral. Esses projetos ampliam as possibilidades de expressão, estimulam a criatividade e fortalecem os vínculos sociais entre os estudantes. Ao vivenciarem essas experiências, os jovens descobrem talentos, desenvolvem senso de pertencimento e encontram motivação e propósito dentro do ambiente escolar.
Além disso, é fundamental que os professores atuem como mediadores do conhecimento e do desenvolvimento dos estudantes, acolhendo suas necessidades e incentivando o protagonismo em sala de aula. Por meio de metodologias dinâmicas, que conectam os conteúdos à realidade cotidiana, o educador contribui para tornar o aprendizado mais significativo e inspirador.
Outro pilar essencial nesse processo é o apoio da família, cuja presença e acompanhamento das rotinas de estudo, do interesse pela vida escolar e da oferta de um ambiente seguro e acolhedor em casa. É essencial que os responsáveis se mantenham disponíveis para conversas e conselhos, especialmente no momento da escolha profissional, uma das decisões mais significativas dessa etapa da vida.
O lado positivo desse momento
Apesar das dificuldades, essa etapa representa uma valiosa oportunidade de crescimento e amadurecimento para o jovem. Como apoio atento familiar e escolar, o estudante pode desenvolver maior consciência de si, compreender seus limites e potencialidades e fortalecer sua autonomia. É também um momento propício para aprimorar hábitos de estudo, cultivar a disciplina e refletir sobre seu futuro e suas escolhas.
As descobertas, os desafios e as inseguranças são naturais e desempenham um papel importante para que as decisões sejam tomadas de maneira cautelosa. O importante é não permitir que a ansiedade escolar paralise os estudantes e que essa fase se torne mais pesada e cansativa do que ela já é.
Marcelle Alvim é Coordenadora Pedagógica da unidade de Muriaé (MG) da Rede de Colégios Santa Marcelina, instituição que alia tradição à uma proposta educacional sociointeracionista e alinhada às principais tendências do mercado de educação.