Moda funcional hoje em dia vai de compressão à regulação de temperatura (Foto: Divulgação)
Moda funcional hoje em dia vai de compressão à regulação de temperatura (Foto: Divulgação)

A moda funcional, ou seja, roupas tecnológicas que prometem melhorar postura, sono ou desempenho físico, vêm ganhando cada vez mais atenção tanto pelo design quanto pelas tecnologias têxteis empregadas. Mas o que a ciência mostra de fato sobre essas promessas ? E quando vale a pena comprar esse tipo de peça ?

Roupas de compressão são as mais destacadas nessa categoria. Uma revisão sistemática recente identificou 183 estudos que exploraram os efeitos de vestimentas de compressão em desempenho físico, função neuromuscular, biomecânica, termorregulação e percepção corporal. 

Embora os resultados sejam amplamente variados, há indícios de que esses tecidos podem reduzir a vibração muscular e melhorar a percepção corporal (propriocepção), o que poderia favorecer o controle postural ou a estabilidade durante o movimento. Em outro estudo específico para postura, mulheres que usaram uma peça compressiva para postura apresentaram maior retração e inclinação posterior da escápula em posição de pé em comparação com uma peça de desempenho genérica. 

No entanto, nem tudo são certezas. A mesma revisão da literatura destaca que poucos estudos mostram melhora significativa em medidas metabólicas, pressóricas ou de cardiorrespiração, ou seja, o efeito da roupa por si só sobre desempenho atlético ou saúde geral ainda está longe de consenso. Também se observou que fatores de ajuste, tipo de vestimenta, tamanho, postura da pessoa quando vestindo a peça, influenciam bastante a pressão exercida e consequentemente o resultado. 

Além da compressão, há tecidos “funcionais” que prometem regulação térmica, liberação de micro-cápsulas antimicrobianas, estímulos sensoriais ou até melhora no sono. Num artigo recente da revista Journal of Functional Biomaterials publicado pela MDPI, pesquisadores descreveram um tecido de compressão com microcápsulas que oferecem propriedades antimicrobianas e de supressão de cicatrizes, ou seja, a funcionalidade está cada vez mais sofisticada.

Saiba no que investir na moda funcional

Para quem está pensando em investir em moda funcional com foco em postura, sono ou performance, algumas orientações podem ajudar. Antes de mais nada, vale considerar para que uso você pretende: se a prioridade for melhorar postura no dia a dia (por exemplo, quem trabalha muito tempo sentado), peças com compressão leve e design que favoreçam alinhamento podem ter algum benefício, ainda que modesto. Já para melhora de desempenho atlético ou sono, as evidências são mais limitadas e podem não justificar peças muito caras se o ajuste ou conforto for ruim.

Na prática, fique atenta a aspectos como: se a peça exerce compressão, se o tamanho é adequado (pois uma peça mal ajustada pode exercer menor pressão do que o anunciado), se é confortável para o uso prolongado (tecidos que esquentam muito ou causam suor excessivo podem atrapalhar em vez de ajudar) e se realmente responde ao seu objetivo (por exemplo, se a roupa “para dormir” ajuda no sono ou se é apenas um apelo comercial).

Para quem quer investir, uma “lista de verificação” pode incluir: escolher peça com compressão leve a moderada (não tão apertada a ponto de desconforto), priorizar materiais que respiram bem e facilitam a transpiração, garantir que o corte da roupa favoreça postura ou suporte (exemplo: costas reforçadas ou faixa que “puxa” em regiões-chave), e verificar se há alguma evidência da marca ou do modelo (como estudo interno ou análise técnica).

Em resumo, moda funcional pode ajudar, especialmente em postura ou percepção corporal, mas não é “milagre”. Uma alimentação adequada, exercício físico, postura consciente e sono de qualidade continuam sendo a base.