
O cientista político Samuel Feldberg, professor da Universidade de São Paulo (USP) e especialista em Relações Internacionais e Oriente Médio, avaliou que a pressão dos Estados Unidos sobre o regime de Nicolás Maduro, na Venezuela, tem mais peso político interno do que militar.
Em visita a Roraima para ministrar um curso de extensão na Universidade Estadual de Roraima (Uerr) e firmar cooperação com a Secretaria de Educação (Seed), Feldberg afirmou não ver possibilidade de uma intervenção direta para derrubar o regime chavista.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
“Não creio que vá haver uma guerra direta porque não é interesse dos Estados Unidos. Trump fala muito mais do que faz. Esse discurso serve ao eleitorado dele”, disse o professor, ao comparar o atual momento com o pós-11 de Setembro, quando o Governo Bush declarou guerra ao terrorismo.
Ele enfatizou que as recentes ações militares norte-americanas no Caribe ocorreram em águas internacionais e não indicam, por ora, violação do direito internacional.
Feldberg relacionou a estratégia norte-americana à antiga Doutrina Monroe, que via a América Latina como o “quintal dos Estados Unidos”.
“O que nós estamos vendo agora é, se não, uma tentativa, pelo menos uma propaganda norte-americana, de resgate dessa política. Obviamente, as democracias aqui da região estão muito mais consolidadas e, portanto, esse discurso é muito mais difícil de ser implementado”, analisou, destacando ainda que justificar ataques sob o argumento de combater o narcotráfico é “insustentável e contra a Carta da ONU”.
“O narcotráfico é um problema que tem que ser combatido principalmente junto ao mercado consumidor. Agora, os Estados Unidos não tem condições de fazer isso, digo, nenhum País tem condições de fazer isso: eliminar o mercado consumidor. O que esse governo americano tá propondo é interromper o fluxo da droga antes de chegar ao território americano, mas, certamente, não é nem viável, nem factível a derrubada de um governo soberano com esse tipo de alegação”, disse, relembrando tentativas históricas frustradas dessa política, como na Baía dos Porcos e na Nicarágua.
Ao comentar o posicionamento do Governo Lula diante da crise venezuelana, Feldberg foi direto ao dizer que a gestão precisa de “coerência” ao se posicionar no cenário internacional.
“Eu chamo de esquizofrênica a posição do Brasil. Declara uma coisa e faz o contrário. Se somos uma democracia que preza pelo Estado de Direito, por que apoiar um governo que não respeitou o resultado das eleições?”, avaliou.
Quem é Samuel Feldberg
Samuel Feldberg é um renomado estudioso com profunda expertise em assuntos do Oriente Médio e relações internacionais. A carreira do especialista, em quase três décadas, é marcada por importantes nomeações acadêmicas, incluindo seu papel como diretor acadêmico do StandWithUs Brasil e como Fellow do Moshe Dayan Center for Middle Eastern and African Studies na Universidade de Tel Aviv.
Suas extensas contribuições para a área incluem várias publicações de livros aclamados e inúmeros artigos que abordam questões críticas, como o conflito Israel-Palestina, as relações internacionais e os estudos sobre o Holocausto.
Fluente em vários idiomas e com uma reputação de analista e comentarista muito requisitado, Feldberg traz um vasto conhecimento e percepção para seu trabalho. Atualmente, ele está envolvido em pesquisas inovadoras sobre temas que vão desde a guerra assimétrica até as negociações de paz entre Israel e Palestina, continuando a fazer contribuições inestimáveis para a compreensão das dinâmicas geopolíticas complexas.