
O fato que ninguém quer discutir, dentro dessa realidade do avanço da força do crime organizado no país, com facções ganhando território nas periferias brasileiras, é o abandono da juventude, para a qual inexistem políticas públicas para adolescentes e jovens. Nesse vácuo deixado pelos governos, o tráfico de droga é quem preenche as lacunas e coopta adolescentes cada vez mais cedo.
Em Roraima, onde a única política direcionada às famílias de baixa renda é a farta distribuição de cesta básica, não como política social, mas como plano assistencialista visando o voto, para a juventude resta a falta de atenção por parte das autoridades, sobrando apenas o aparato policial que funciona com a tática de reprimir, muitas vezes reproduzindo cenas de violência históricas que não resolvem nada, a não ser gerar mais exclusão social.
Na política partidária, até muito recentemente, o representante da juventude que se apresentava no cenário era um antigo e arcaico personagem que, ao conseguir um mandato, se tornou mais um parlamentar fazendo seus esquemas e defendendo seus interesses, inclusive chegando a chamar estudantes em protestos na galeria da Assembleia Legislativa de “macacos de auditório”.
No passado não muito distante, todos os programas voltados a incentivar os estudos foram extintos, a exemplo do que ofertava cursinhos pré-vestibular. O programa do governo que oferecia bolsa de estudo para jovens universitários se tornou um balcão de favores, beneficiando os filhos da mesma elite que sempre se locupletou do banquete dos políticos, chegando inclusive a bancar quem estudava em outros estados e até no exterior.
Programas para jovens aprendizes não existem mais, da mesma forma que desapareceram outras ações artísticas e culturais voltadas para ocupar a ociosidade de adolescentes na periferia. A ausência de incentivo governamental coloca adolescentes e jovens de programas culturais e esportivos na fila do semáforo para pedir esmola a fim de comprar passagens aéreas para que possam participar de eventos e competições nacionais.
A respeito de políticas públicas no país, a partir do governo anterior, que misturou política com religião, a juventude brasileira teve os seus direitos negados por meio do enfraquecimento das políticas públicas e do esvaziamento de espaços participativos, abrindo ainda mais o abismo que distanciou adolescentes e jovens das decisões sobre suas vidas.
E foi assim que as drogas começaram a vencer e as facções passaram a arrebanhar integrantes ainda crianças, apesar da luta de pais e mães cada vez mais enfraquecidos pela exclusão social. Enquanto os governos tiverem como proposta apenas enviar a polícia para a periferia, cenas como que ocorreram no Rio de Janeiro continuarão ocorrendo, para deleite de quem acha que pobreza é autorização para se tornar bandido, e não a ausência completa de políticas públicas além da distribuição de cesta básica.
*Colunista