
O fiscal agropecuário Murilo Dias, chefe do Programa de Sanidade Suína da Agência de Defesa Agropecuária de Roraima (ADERR), alerta que o estado enfrenta o avanço de javalis (Sus scrofa) e javaporcos (Sus scrofa domesticus). Estas espécies invasoras atinge a marca de 15 a 20 mil animais em circulação.
Contudo, o maior perigo, conforme a agência, não é apenas o prejuízo a lavouras e o desequilíbrio ambiental, mas o risco sanitário à suinocultura. O avanço desses animais, que cresceu exponencialmente devido à fartura de alimentos, torna a chegada de vírus como peste suína uma “questão de tempo”.
Ameaça global e prejuízos
O Brasil mantém o posto de quarto maior exportador de carne suína do mundo. Entetanto, a ADERR avalia que javali e o javaporco (cruzamento com o porco doméstico) representam a principal ameaça a este mercado no cenário internacional.
“Uma das coisas que mais atrapalham a exportação da carne no resto do mundo é o problema com a peste suína africana. E o principal carreador do vírus da peste suína africana é o javali e o javaporco. Então, a gente tem que se precaver. É uma questão de tempo para o vírus chegar,” afirma o técnico da agência.
Assim, os impactos do animal invasor em Roraima se dividem em três pilares:
- Econômico: Atinge principalmente a agricultura familiar, já que o animal é onívoro e come “praticamente tudo que é plantado”. O prejuízo no Brasil é estimado em mais de R$ 100 milhões anuais.
- Ambiental: Os javalis se alimentam de pequenos roedores, lagartos e ovos de aves que se reproduzem no chão, gerando desequilíbrio na fauna nativa.
- Sanitário: O principal risco, com potencial de travar toda a economia suinícola nacional, como ocorre na Europa.
Alta inteligência e dificuldade de controle
O especialista explica que o javali é o ancestral selvagem do porco doméstico, sendo a principal diferença o instinto selvagem, que garante alta adaptabilidade e capacidade de sobrevivência.
A situação em Roraima se agravou porque a expansão do agronegócio, com lavouras de soja e milho, criou uma oferta de alimento abundante para os animais.“Aqui no Brasil, um país tropical, com alimentação farta e sem predador natural, como esses animais vão diminuir se não houver algum tipo de controle em cima deles?”, questionou.
O problema da infestação começou em Alto Alegre por volta de 2012 e espalhou-se rapidamente por Bonfim, Cantá, Amajari e Boa Vista, e atualmente é agravado pela burocracia no controle.
O controle do javali (espécie considerada invasora pelo próprio Ibama) necessita de autorização via Sistema Integrado de Manejo de Fauna (SIMAF). No entanto, o controle no estado está travado. “De 2023 e 2024 para cá… esses controles foram travados, essas autorizações foram travadas, e não houveram mais controles. Então esses animais só estão aumentando, estão expandindo,” relata o fiscal da ADERR
Javalis, Javaporcos e Suiformes nativos: saiba diferenciar
Diante deste cenário, uma audiência na Assembleia Legislativa teve como objetivo principal trazer a responsabilidade do controle para o Estado de Roraima, retirando a dependência de um órgão federal. O especialoista defende que todos os métodos de controle (caça, armadilhas, etc.) devem ser utilizados para gerenciar a praga.
Contexto nacional
O problema é nacional. A falta de predadores naturais e a alta capacidade de adaptação tornam o controle do javali complexo. A legislação federal de controle de fauna tem sido alvo de pressão da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) e de projetos de lei que buscam dar mais autonomia aos estados.