
Roraima conta com apenas um serviço de cuidados paliativos, segundo dados da Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP). O levantamento mostra que, dos 234 serviços existentes no país, a região Norte é a que tem menor acesso a esse tipo de assistência, com apenas oito unidades distribuídas entre cinco estados (Amazonas, Pará, Rondônia, Tocantins e Roraima).
Os serviços de cuidados paliativos são ações de cuidado voltadas para o bem-estar e qualidade de vida de pacientes com doenças graves e crônicas, que precisam de suporte físico, emocional e social.
De acordo com dados do Ministério da Saúde, cerca de 625 mil brasileiros necessitam de algum tipo de cuidado paliativo. No entanto, a oferta desse serviço ainda é limitada e concentrada principalmente nas regiões Sul e Sudeste do país.
O doutor em cuidados paliativos do Hospital das Clínicas e membro da Organização Nacional de Acreditação (ONA), Douglas Crispim, explicou que os cuidados paliativos não se restringem a pessoas em fase terminal.
“No caso dos adultos, os principais grupos que necessitam de cuidados paliativos são aqueles com doenças cardiovasculares, renais, pulmonares, hepáticas – incluindo a cirrose e condições que exigem transplante, além de pacientes com câncer e doenças neurológicas, como Alzheimer, sequelas de acidente vascular cerebral e Parkinson”, esclareceu.
Crispim destaca que fatores sociais, como a baixa renda e situações de vulnerabilidade, também ampliam a necessidade desse tipo de cuidado, uma vez que o sofrimento social se soma ao sofrimento em saúde. Ele reforça que, mais do que tratar sintomas físicos, os cuidados paliativos acompanham o paciente desde o diagnóstico, durante o tratamento e até o período de luto da família.
“A proposta é mitigar efeitos colaterais, reduzir o sofrimento, apoiar os familiares e oferecer uma rede completa de atenção ao longo de todo o processo. Esse olhar ampliado torna os cuidados paliativos essenciais para garantir dignidade e qualidade de vida, independentemente da fase da doença”, disse o doutor.
Cenário Nacional
Conforme dados da Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP), divulgados no Atlas dos Cuidados Paliativos do Brasil, o país conta atualmente com 234 serviços de cuidados paliativos em funcionamento, sendo que a maior parte dos atendimentos ocorre na rede pública, com 123 serviços (52,6%) funcionando exclusivamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
A ANCP revela que outros 36 serviços (15,4%) funcionam de forma mista, atendendo tanto pelo SUS quanto pela rede privada, enquanto 75 (32%) atuam exclusivamente na saúde suplementar, voltada aos serviços de assistência médica.
“O Brasil permanece mal posicionado nos rankings internacionais de qualidade da morte, ao lado de países com baixos indicadores socioeconômicos, principalmente na África. Isso revela o contraste entre o potencial econômico brasileiro e a desigualdade na oferta de cuidados paliativos”, alerta Crispim.