
Roraima passou a ser protagonista sobre pesquisas paleontológicas na Amazônia. Após a descoberta de pegadas de dinossauros na região da bacia sedimentar do rio Tacutu, em Bonfim, município de Roraima, uma nova etapa de estudos deve revelar trilhas fossilizadas de aproximadamente 20 metros.
O estudo será voltado à busca e ao mapeamento de trilhas de dinossauros na Comunidade Indígena Jabuti, com autorização da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai). A etapa será conduzida pesquisador Lucas Barros, mestre em Ciências Biológicas, que deu continuidade à descoberta feita em 2011 pelo professor da Universidade Federal de Roraima (UFRR) Vladimir de Souza.
“Lá existem muitos locais onde essas rochas afloram e são rochas muito potenciais para também ter pegadas de dinossauros. Nós já temos autorização da Funai e vamos começar esse trabalho ainda nesta semana”, afirmou Barros.

De acordo com o professor Vladimir, essa nova fase marca um avanço importante nas pesquisas, que agora deixam de focar apenas em pegadas isoladas e passam a analisar trilhas completas deixadas por dinossauros que cruzaram a região há milhões de anos. Além disso, “não são apenas pegadas soltas, mas trilhas bem preservadas, com mais de 20 metros de comprimento”.
Vladimir destacou que as formações encontradas na região estão entre as mais bem preservadas da Amazônia e reforçam a importância científica de Roraima no cenário paleontológico brasileiro.
“Lá identificamos quatro trilhas e inúmeras pegadas em apenas uma das serras visitadas. Acreditamos que há muito mais a ser pesquisado na área. É um achado de grande relevância para a ciência, porque revela não só a presença dos dinossauros, mas também como eles se deslocavam em grupo”, explicou o pesquisador.

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Origem da pesquisa
A pesquisa começou há 14 anos, quando o professor Vladimir, durante uma atividade de campo com alunos do curso de Geologia da UFRR, identificou estruturas incomuns em afloramentos rochosos no município de Bonfim. Após análise detalhada, ele confirmou se tratar de pegadas fossilizadas de dinossauros – um achado inédito na Amazônia.
“Entre você achar e divulgar sem ter uma comprovação mais científica, tem muita coisa. Nosso medo era que, se a gente divulgasse sem uma publicação que atestasse o achado, pesquisadores de outras regiões pudessem vir aqui, registrar e dizer que a descoberta era deles. Então, nós preferimos aguardar os resultados, publicar artigos e só depois divulgar oficialmente”, relatou o professor.

Barros lembra que, à época, o trabalho enfrentou limitações técnicas e estruturais dentro da universidade. “O estudo chegou a ficar parado, porque a UFRR não tinha especialista nem equipamento para processar os modelos tridimensionais das pegadas. Quando entrei no final da graduação, usei equipamentos próprios e desenvolvi essas técnicas, o que permitiu confirmar e expandir o estudo”, contou o pesquisador.
Confirmação científica
Lucas realizou o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) sobre o tema, com financiamento da UFRR, e posteriormente deu continuidade à pesquisa no mestrado em Paleobiologia na Universidade Federal do Pampa (Unipampa), com auxílio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). A partir dessas análises, novas localidades com pegadas foram descobertas em diferentes pontos da Bacia, ampliando o registro fóssil de dinossauros na Amazônia.
O material foi apresentado em congressos nacionais e internacionais, inclusive no 18º Simpósio de Geologia da Amazônia (SGA) que acontece na UFRR. A pesquisa também está em final de revisão na revista Cretaceous Research, especializada em estudos do período Cretáceo. “Essas pegadas foram bem aceitas pela comunidade científica e já receberam o aval dos especialistas”, afirmou o jovem pesquisador.

Diversidade e relevância
Os registros encontrados até agora, segundo Lucas, incluem pegadas de saurópodes (de pescoço e cauda longos), tireóforos (com armaduras corporais), ornitópodes (herbívoros bípedes conhecidos como “bico de pato”) e terópodes (carnívoros). “Essa pesquisa não só comprova a presença de pegadas de dinossauros, mas também coloca Roraima no mapa global das ocorrências fósseis. Na Amazônia, há pouquíssimos registros, e aqui identificamos todos os grandes grupos desses animais”, destacou.
Com a nova fase centrada nas trilhas, a equipe pretende entender os deslocamentos e comportamentos dos dinossauros que habitaram a região. “As trilhas podem nos contar muito mais do que a presença deles — podem mostrar como viviam, se andavam em grupo, se migravam. É um trabalho que ainda está só começando”, disse Barros.