Apocalipse no trânsito e a ostentação da ignorância e do desconhecimento   
Cena cotidiana de acidentes de trânsito em Roraima mostra que estamos numa guerrilha urbana (Fotos: Reprodução)

A situação do trânsito boa-vistense tornou-se tão caótico a ponto de viatura da polícia colidir com o caminhão de coleta de lixo e de carro particular bater contra uma ambulância. No interior, houve até o caso no Município do Cantá em que dois carros baterem de frente em cima de uma ponte de madeira sobre o igarapé do balneário Sacolejo. Cenas que mais parecem ter saído de um filme sobre o apocalipse.

Tais casos servem apenas para ilustrar não apenas a violência no trânsito em si, pois acidentes graves têm ocorrido com frequência, com mortes e feridos, mas a desatenção, a imperícia, a irresponsabilidade e o descaso por parte das pessoas na condução dos veículos e na convivência social que o trânsito cidadão exige para o bem-estar coletivo.

Não se trata mais apenas de mobilidade urbana, que verdadeiramente é um grande desafio de nossas autoridades no presente para que não tenhamos um futuro de completo caos, mas de civilidade, urbanidade e cidadania. Não se sabe exatamente o motivo e o momento de quando perdemos o bom senso de cidadão para nos tornarmos incivilizados no trânsito, em uma selvageria gratuita, em que um carro se tornou um escudo de opressão e cometimento de crimes.  

Tal realidade merece um acurado estudo para apontar o motivo pelo qual deixamos de ser exemplo de respeito à faixa de pedestre – fato este que tanto nos orgulhava e que era elogiado por quem visitava Boa Vista – para nos tornamos trogloditas na condução de veículos, a ponto de a incivilidade transformar o ato de estar no trânsito em uma guerrilha urbana declarada.

Mas um fato é certo: trânsito diz respeito à educação e à cidadania. Logo, em um momento em que boa parte da sociedade passou a ter orgulho de ostentar a ignorância e o desconhecimento, comportamento esse que foi escrachado na política tomada pelo extremismo, nos últimos anos, não é de se estranhar que tais comportamentos também possam contaminar a boa convivência no trânsito nosso de cada dia.

O fato é que de nada adiantará adotar políticas públicas para melhorar a mobilidade urbana em Boa Vista se o cidadão não se curar da incivilidade no trânsito e no convívio social. Ao contrário, esse arrocho provocado por estrangulamento em trechos movimentados acaba se tornando um fator para reduzir velocidade e evitar acidentes trágicos, em prejuízo à fluidez no trânsito e à qualidade de vida. É o conceito mais absurdo que possa existir em uma sociedade que adoeceu.

É necessário que a sociedade perceba que o grande problema não está somente em adoção de medidas austeras por parte dos legisladores e órgãos fiscalizadores, mas em sua própria conduta. É necessário que essa nova geração que está surgindo quebre esses paradigmas da ignorância e da mentira, além da falta de cultura, educação e de conhecimento como ostentação de quem se acha superior na sociedade contaminada pelo extremismo. Saber e educação precisam voltar a ser ostentados pelo cidadão com orgulho, incluindo aí o trânsito.

*Colunista

[email protected]